O porque eu cheguei nesse estado deplorável? Essa região aqui era conhecida como Lagoa dos Japoneses por causa, acredito que todos sabem, de uma colônia de japoneses que habitava suas margens¹. Praticamente não tinha casas e muito menos ruas. Isso até 1953, quando surgiu um baita loteamento e que por causa disso quase acabaram com a lagoa². Não me lembro em que ano fui erguida, mas foi por esse tempo. Como praticamente todas as casas, surgi muito simplória. Durante muitos anos continuamos simplórias, até que tudo começou a mudar depois que construíram a rodoviária³. Aí o bicho pegou, pois urbanizaram a lagoa e com isso veio o progresso e com ele o asfaltamento de todas as ruas, resultando na eliminação gradual das casinhas simples como eu por outras melhores. Mais adiante, outra praga começou a invadir os nossos espaços: edifícios. Enquanto tudo isso acontecendo, eu não percebi que estava sendo literalmente abandonada como uma ferrugem corroendo um metal, aos poucos, mas real. Não me lembro quando foi a última vez que consertaram algo dentro de mim. A deterioração bateu-se sobre mim e foi me arruinando paulatinamente. E meus donos sem a mínima preocupação com a minha ruína, até que cheguei nesse ponto que aí está, em que até tentam me esconder com tapumes. E para encerrar, mesmo eu nesse estado deplorável, refugam-me, colocando-me à venda. Entendeu agora porque cheguei nesse estado deplorável? Assim vou ser registrada na História de Patos de Minas. E mesmo assim, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Paraíba entre suas colegas Barão do Rio Branco e Alagoas, no Bairro Cristo Redentor.
* 2: Leia “Loteamento Ilídio Caixeta de Melo”.
* 3: Leia “Nova Rodoviária em Construção”.
* Texto e foto (05/05/2024): Eitel Teixeira Dannemann.