Pelo meu passeio¹ passeiam muitos estudantes universitários. Minhas sofridas e maltratadas paredes já ouviram eles falarem que o universo é infinito. Teve um que afirmou que a Terra era plana e outro rebateu que agora alguns estão dizendo que o nosso planeta, na realidade, tem a forma de um biscoito. Como não entendo bulhufas do que esses jovens falam, assim como não entendo porque eles bebem tanto naqueles bares lá em cima e estão sempre arrumando confusão, tudo isso entra por uma janela e sai pela outra. O que me importa é o estado em que me encontro, de total desleixo, isso para não dizer abandono. Estou que nem morador de rua que não toma banho. Esses pouco se importam com isso. Mas eu não me sinto bem nesse estado. Nem sei como as almas que me habitam conseguem viver assim. Tenho pena até desse cachorro, que está parecendo querer cair fora daqui. É, ele fica quase todo o dia grudado no portão imaginando-se solto.
Quando olho para os lados, para a frente e para a traseira é que começa a ter sentido o meu estado físico. Antes da instalação da faculdade não havia por aqui um único edifício acima de três andares. A partir da década de 1980, quando a instituição de ensino se transformou em universidade, todo o entorno se desenvolveu, casas melhores que eu foram surgindo e, vapt-vupt, num piscar de olhos, não interessa se humildes ou não, as casas foram cedendo espaço para os altos edifícios, a maioria deles com apertamentos para estudantes. Sei lá o que se passa na mente dessas almas que moram em mim. Esperanças de uma reforma, não tenho nenhuma. Se não tenho esperança alguma de reforma, o que pensar? O óbvio: meu destino está selado e, sabe-se lá quando, nesse meu espaço surgirão mais moradias para os estudantes. E resignada, mas sabedora de que faço parte da História de Patos de Minas, deixarei saudade!
* 1: O imóvel está localizado à Rua dos Xavantes entre a Avenida Tomaz de Aquino e a Rua Padre Pavoni, no Bairro Rosário.
* Texto e foto (22/04/2019): Eitel Teixeira Dannemann.