A memória anda falhando, mas ainda me lembro de como era essa nossa região¹, onde a maioria das casas era, senão igual a mim, um cadiquinho melhor, só isso. Sabe, gente simples, mas trabalhadeira, como o Seu João Luiz² da olaria, que veio várias vezes nos visitar. Tá certo, claro, tem gente também que não é flor que se cheire, mas isso tem até em bairros nobres, né, deixa pra lá. O certo é que eu ando cansada da vida, de sentir nesse pouco espaço o amargo sabor do abandono. Aquela lagoa de antigamente, com gente pescando, não existe mais, e diziam na época que dava traíra de mais de três quilos e até piranha, mas não na água, e sim pelas redondezas. O tempo foi passando, em volta da lagoa foi enchendo de casas, ela foi secando e só não secou de vez porque trataram dela. Ainda existe por aqui um mundaréu de casinhas simples daquele tempo, como eu. Mas meu tempo de existência está se espirando, sinto isso em cada um dos meus poucos tijolos e das minhas poucas telhas. É uma sensação esquisita, principalmente quando percebo que no lugar de uma de nós surge um prédio. É fato que todas nós, com o passar dos anos, vamos desaparecer para surgirem prédios. Dentro da minha simplicidade sempre fui conformada, feliz mesmo assim por ter aconchegado vários humanos. Isso faz parte da História de Patos de Minas. Agora, estão tratando novamente da lagoa. Bem sei eu que nunca mais serei tratada, e sim derrubada. Que seja, é um ciclo que vai chegando ao fim. E quando ele efetivamente chegar, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Anicésio Vieira em frente à Rua dos Cirinos, no Bairro Lagoinha.
* 2: Leia “Parque João Luiz Redondo”.
* Texto e foto (04/06/2023): Eitel Teixeira Dannemann.