Desde que fui abandonada, questiono comigo sobre o porquê fui construída. Coisa esquisita isso, sô, tive muita movimentação dentro de mim durante certo tempo, um falatório danado, que minhas paredes não conseguem refletir, afinal, qual foi a minha utilidade? No meu entorno¹ há muitos depósitos de areia, cascalho, terra, brita e afins, e isso me lembro de avistar em volta de mim. Será que fui um pequeno escritório desse tipo de empresa? Ora, nem eu acredito que tenha sido uma residência de alguma família, né, tão diminuta assim que sou. Só sei que nesse meu tempo de existência vi esse bairro crescer e ajuntar um mundaréu de casas. Agora, estou abandonada nesse grande terreno. O que será de mim? Por aqui, por acolá, os terrenos estão sendo engolidos pelo progresso. São imóveis de um pavimento, na grande maioria, dois quando muito. É óbvio que os edifícios de mais de três andares vão fincar raízes por aqui, é questão de pouco tempo. A ânsia que me acomete é que os imóveis como eu, que já serviram a muitos e hoje não servem para ninguém, vão ser eliminados em prol do disgranhento progresso. Ô danura, ô disgrama. Fazer o que? Quer queiram ou não, faço parte da História de Patos de Minas, e quando eu sumir, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Onaldo Lima, Bairro Céu Azul, logo após a Avenida JK.
* Texto e foto (20/09/2020): Eitel Teixeira Dannemann.