Sinistro, muito sinistro o que vem acontecendo comigo ultimamente. Há muito tempo sou considerada uma construção histórica e até colocaram na minha frente uma placa alusiva ao fato. Há muito tempo, sei lá quanto tempo, sou desse mesmo jeito, dessa mesma aparência. Nem me lembro de quando fui construída nesse local, só sei que foi há muito tempo¹. Há muito tempo tratam-me com certo carinho, talvez pela minha idade, por ser considerada histórica, como eu já disse. Entretanto, de uns tempos pra cá, mudanças de comportamento estão acontecendo nas almas que me habitam. Simplesmente pararam de consertarem as marcas do tempo nas minhas paredes e estruturas. Como pode reparar, meus tijolos tipo adobe² estão à mostra. Olhe as minhas janelas, deterioradas pelo tempo. Há muito tempo estou assim, não me arrumam, e isso vem me preocupando deveras. Por que, antigamente, sempre corrigiam as minhas falhas e de um longo tempo pra cá não fazem mais isso? Preocupante, muito preocupante. Pode piorar? Pois já piorou! E não é que retiraram a placa de minha parede que confirma que sou um imóvel histórico? Qual o motivo? Só nesse quarteirão muitos imóveis como eu sucumbiram. Você aí, minha semelhante, que aconchegou o Dr. Telêmaco³, te cuida, pois eu já vou botar minhas estruturas de molho porque com a predaiada que está surgindo por aqui por causa do famigerado progresso não tem imóvel histórico que resista. É a sina: todo o Centro será transformado numa coleção de prédios e com isso, adeus patrimônio histórico. Como a placa já comprovou, faço parte da História de Patos de Minas. Se o que me espera é funesto, que seja, pelo menos deixarei saudade!
* 1: Leia “Casa de João de Barros”. Esse imóvel localiza-se no número 167 da Rua General Osório, Centro, entre Avenida Getúlio Vargas e Rua Major Gote.
* 2: Um dos mais antigos materiais de construção utilizados no mundo é o tijolo de adobe. Sua composição traz terra crua, água, palha e fibras naturais (como esterco de gado), que são moldados artesanalmente em fôrmas e cozidos ao sol.
* 3: Leia “Casa Onde Nasceu Autran Dourado”.
* Texto e foto (22/07/2022): Eitel Teixeira Dannemann.
