Quando fui erguida, essa rua não tinha o nome de Dr. Eufrásio Rodrigues, e não me lembro quando ela foi assim denominada¹. Não o conheci pessoalmente, ele nunca esteve em minhas entranhas, mas os meus construtores eram seus amigos e muito se falava dele. Pelo que eu fiquei sabendo, era um médico deveras afamado e respeitado em todo o Município. Assim também, na minha juventude, tive os meus momentos de fama com minha arquitetura que fugia do tradicional caixote da época. Por aqui, existiam poucas casas como eu, a maioria era simples e havia assaz vegetação. Com o passar do tempo, tudo foi mudando, se transformando, o mato foi se escasseando, o asfalto sendo assentado em todas as ruas e eis que cheguei ao século 21. E cheguei com saúde, pois sempre fui bem cuidada. Mas, se o corpo vai bem, a mente não anda lá essas coisas. Preocupações extrassensoriais se apoderaram de minhas paredes.
Sei lá, talvez eu seja mesmo sensitiva e estou agora percebendo certos fenômenos que têm abalado os meus sólidos alicerces. E esses fenômenos vêm do meu entorno e até de mais longe. Vêm através de visões das transformações estruturais da região. Um dia ouvi que, enquanto a Cidade se espalha horizontalmente pela periferia desocupada, no lugar ocupado a coisa se dá verticalmente sobre os escombros das antigas construções. Eis aqui o perigo para todas nós. Eu sou antiga, e pela lei do progresso, não tenho o direito de ocupar o lugar do novo. Simples assim, não existe contestação, e sim exceção a algumas privilegiadas que se salvam. O que me resta? Assim como o Dr. Eufrásio José Rodrigues não teve como fugir de sua sina, a morte, a única alternativa que tenho é aguardar a primeira marretada. Vou em paz, sendo parte da História de Patos de Minas, e deixarei saudade!
* 1: O imóvel está localizado à Rua Dr. Eufrásio Rodrigues entre Rua Teófilo Otoni e Rua Ana de Oliveira.
* Texto e foto (15/11/2018): Eitel Teixeira Dannemann.
