Já ouvi aqui dentro de mim que o mundo está sem forma. Sei lá o que isso significa, mas que o mundo está sem forma desde que foi criado, isso está, mesmo que eu não tenha a mínima noção do que isso significa. Mas que está sem forma, está. Também já ouvi que essa minha região aqui já esteve sem forma durante anos a fio. E não é nada difícil explicar o porquê. O negócio é que por aqui nesse entorno o bicho pegava no tal do comércio dos prazeres femininos, se é que deu pra entender. A rua de cima então¹, era, vamos dizer assim, o chamariz principal das moçoilas, ou nem tanto, procuradas pelos moçoilos, ou nem tanto, ávidos de prazer hormonal. E como rolava confusão, era muita mesmo. Isso tudo ficou pra trás, já não importa mais. Mudando do café pro leite, o interessante nessa minha curta rua² é como nós imóveis fomos sendo construídos grudados uns nos outros. Não me lembro se antes do meu surgimento era assim, mas o que se percebe claramente é que não existem muros entre duas casas. E como eu não estou nem aí pra isso, minha observação, desde muito tempo, é notar que as casas estão cedendo lugar para os edifícios. Seria normal se não fosse triste. Pelo menos fui reformada recentemente e isso me deixa momentaneamente mais serenada. Até quando não sei, mas ouvi de um de meus habitantes a notícia de que duas ali adiante, grudadas como são, serão demolidas para a construção de um desses monstrengos. É a realidade inescapável. E se é uma realidade inescapável, não serei eu a inescapável. Se meu construtor já se foi, se seus descendentes também vão, claro que um dia chegará a mim vez de entrar para a História de Patos de Minas. E como dois mais dois é igual a quatro, deixarei saudade!
* 1: Rua Padre Brito.
* 2: O imóvel localiza-se na Travessa Vítor Barcelos, entre as Ruas Olegário Maciel e General Osório.
* Texto e foto (25/02/2024): Eitel Teixeira Dannemann.
