Ei, presta atenção nimim, sou essa aqui da esquerda. Falo em nome de nós duas, isso porque a minha colega aí do lado me autorizou por estar tão arrasada que não tem vontade alguma de se expressar. Aliás, é bom deixar muito bem evidente, estou tão arrasada quando ela, mas, sei lá de onde me veio essa força para me expressar, resolvi falar em nome de nós duas, que a partir de agora somos uma só, pois ao me expressar aqui, estou me referindo a nós duas. Então, eu já fui de muita importância por aqui, o meu interior estava proporcionando renda para muitas famílias necessitadas com as lavagens de roupas¹. Tudo ia bem, e até gente chique vinha aqui porque sabia que o trabalho da gente de dentro de mim era trabalho igualmente chique. Eu, como imóvel, lembrando mais uma vez que estou falando em nome também da minha amiga aí do lado, sou apenas um receptáculo dos humanos, que é aconchegar a quem e o que é preciso, independente de quem seja o meu dono. Não me importa o que funciona dentro de mim, importa pra mim é estar sendo útil. Pois é, eu estava sendo útil, mas, de repente, deixei de ser útil e fui abandonada, literalmente abandonada. Do nada, da utilidade para a inutilidade. Agora estou presenciando atrozmente o tempo corroer-me, deteriorar-me, apontando-me o fim da minha existência. Vou em paz comigo mesma, sabendo que sou parte da História de Patos de Minas, e deixarei saudade!
* 1: Leia “Foi-se a Lavanderia Comunitária da Lagoinha”.
* Texto e foto (23/06/2023): Eitel Teixeira Dannemann.