Minhas duas janelas eram meus olhos, duas simples janelas na humildade da minha existência. Através delas eu apreciava o movimento da gente simples como os meus construtores. Mas também muita esquisitice, pois por aqui o bicho pegava num mercado carnal que atraia muita gente¹. Depois de muito tempo aconchegando almas, sem eu me preocupar com o tipo das almas, vi-me sozinha, desamparada. Então, tamparam minhas duas janelas, meus olhos. Ao mesmo tempo, tamparam a minha porta, a minha boca, que com ela eu rangia minhas dores. Abandono, insensatez, penúria, baita sofrimento de quem já foi útil e hoje se encontra como um traste sem valia alguma. Antes de me sentir cega e muda, percebi esse monstro aí à minha esquerda surgir como uma ameaça terrível. Antes de me sentir cega e muda, percebi outros iguais a ele surgirem no meu entorno. Senti tremores na minha frágil estrutura. Telhas trincaram no desenrolar de minhas inquietudes. Como é triste ser abandonada. Como é pavorosa a solidão. Como é terrível perceber que algo ruim está por acontecer. Se toda a permissividade que havia por aqui se foi, se muitas de nós, simples como eu ou nem tanto, estão sendo dizimadas, o que posso esperar? Só me lembro que quando me cegavam e me emudeciam, ouvi dizerem que, enquanto não decidiam o que fazer comigo, eu não me tornaria um antro. Não me resta mais nada a não ser esperar o meu fim. Fui por demais humilde, mas, isso ninguém me tira, faço parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Barão do Rio Branco entre as suas colegas Natal e José de Santana, no Centro. Leia “Prostituição”.
* Texto e foto (30/08/2021): Eitel Teixeira Dannemann.