Mas o que é isso, alguém me fotografando? Deixa eu sacudir a sujeira do meu telhado e ranger as minhas rachaduras para tentar acreditar nisso. Alguém me fotografando? Uai, será por quê? Que prazer tem esse sujeito de perder tempo comigo, tão maltrapilha e abandonada como estou? E por que ele está de máscara, é vergonha de mostrar a cara perante a minha simploriedade? Ei… lá se vai ele. Ô disgrama, se eu tivesse a capacidade de falar abriria o livro da minha vida para ele. Vida humilde desde o início, aconchegando almas humildes desde que fui erguida¹. Por isso minha estranheza com aquele sujeito da câmera, porque esses taizinhos só se preocupam em registrar casarões de gente rica e a Catedral, pois é isso, para eles, que fazem a História de Patos de Minas. E quando derrubam uma delas para ceder lugar a edifícios, Ó Deus Pai Todo Poderoso, é um pandemônio, chegam a arrancar os cabelos. Agora, se qualquer uma como eu se transformar em entulhos, ora, dane-se, não representa nada. Tem dó, Deiró! Eu é que digo dane-se, pois por mais simplória que eu seja, pois mais abandonada que eu esteja, tenho tanta importância para a História de Patos de Minas quanto a mais valiosa mansão da Cidade. Ora se não! E tem mais, no dia em que me destruírem definitivamente, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Santo Antônio, quase esquina com sua colega Ponto Chic, no Bairro Vila Garcia.
* Texto e foto (16/02/2021): Eitel Teixeira Dannemann.