Não tenho como demonstrar, a quem quer que seja, a minha consternação por estar presenciando a demolição da minha semelhante aí ao lado¹. Por quê? Ora, onde já se viu um imóvel, seja lá que tipo for, transparecer as suas emoções ao ponto dos humanos perceberem? Isso é coisa nossa, só nós sofremos com isso, e só nós sabemos o que é ser descartada. Se houver uma expressão mais condizente para vocês humanos, problema de vocês, pois para mim quando somos demolidas estamos sendo descartadas. Qual o motivo? Os exemplos estão aí: edifícios, que são sinônimos de progresso. Progresso para eles, os humanos, que pouco se importam com anos e anos de aconchego que proporcionamos. Para mim, progresso significa descarte. Descarta-se o imóvel que tanto foi útil por outro que vai ser útil e a possibilidade de continuar o processo não é pequena. Por que simplesmente não nos reformam, não nos embelezam? Ao invés, nos destroem, nos jogam ao chão como reles amontoados de alvenarias. Pelamordedeus, é muita desconsideração, muita crueldade. Agora estou aqui, presenciando isso tudo, trincando as minhas estruturas com o quando. Quando? Sim, estou numa angústia disgramada me perguntando: quando será a minha vez? Sim, a mim vez de desaparecer, de me transformar unicamente numa lembrança na História de Patos de Minas. Pelo menos, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Maestro Randolfo, alguns metros após a Praça Vovó Nenen em direção à Avenida Paracatu.
* Texto e foto (16/05/2021): Eitel Teixeira Dannemann.