Não sei se vocês sabem, e na situação em que me encontro, pouco me importa, mas o negócio é que essa região toda por aqui era repleta de árvores cabaceiras. Cabaceiras, que produz cabaças, viu? Ouvi muito das pobres almas que me construíram uma lenda sobre uns gemidos que assustavam todo mundo que passava pelas trilhas¹. Sim, aqui era Cerrado puro, era a Fazenda Limoeiro que os irmãos Garcia (Genésio e Mário) compraram, lotearam e montaram uma baita usina de beneficiar arroz que deu emprego a muita gente e hoje é o Bairro Vila Garcia. Depois, vieram outros bairros. Eu, por exemplo, estou no Bairro Bela Vista². Pois foi justamente por causa dessas mudanças que imóveis simplórios como eu foram perdendo espaço para outros melhorzinhos e pior ainda, para prédios. Dinsgranhento progresso que nos elimina sem dó nem piedade. Cadê as almas que me construíram? Cadê as últimas almas que me habitaram? Escafederam-se, sumiram e nunca mais voltaram. E me deixaram assim, totalmente abandonada, à mercê dos novos tempos. Cá estou, mirando a pequena mercearia à minha frente, mirando lá em cima e lá em baixo, vendo as demolições e as novas construções, angustiosamente esperando a minha vez. Podem comentar o que quiserem a meu respeito, a minha pequenez, a minha ruína, que se dane tudo, o que importa é, queiram ou não, faço parte da História de Patos de Minas, e quando eu for demolida, deixarei saudade!
* 1: Leia “O Vale das Cabaças Uivantes”.
* 2: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Antônio Caetano de Menezes com sua colega Olímpio José Luiz.
* Texto e foto (05/07/2019): Eitel Teixeira Dannemann.