DEIXAREI SAUDADE − 153

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

A sensação de abandono é horrível, não desejo isso para a minha pior inimiga entre os imóveis, que é essa sirigaita aqui ao lado que, simplesinha de tudo, nem chega a meus pés, fica zombando da minha situação. Não dá para entender é que não faz muito tempo, não tem nem dois anos, chegaram a dar uma retocada no meu visual, incluindo o telhado, e aí eu logo pensei que continuaria sendo habitada. Trem mais esquisito, sô, depois disso fui largada e assim estou atualmente. O que será que aconteceu? Sei lá, só sei que durante muitos anos aconcheguei muitas almas e o que recebo em troca é esse abandono. Quanta injustiça, quanta ingratidão. Pois é, se eu posso ser facilmente substituída por um edifício, como vai acontecer com todas nós, mais facilmente ainda posso ser abandonada, como fui. Agora, o que me dói com força nem é esse abandono, é a indiferença dos humanos que passam por aqui e me veem nessas condições. Na verdade, o esquecimento é pior do que o abandono. E foi isso que fizeram comigo: não só me abandonaram, mas tristemente me esqueceram. Mas por mais que todas as almas que me habitaram tenham me abandonado e esquecido todos os abrigos que lhes ofereci, no dia em que me verem transformada em entulhos, a História de Patos de Minas jamais me esquecerá, mas a eles deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Deocleciano Mundim entre Rua Salvador e Rua Dona Nhá, no Bairro São Francisco.

* Texto e foto (24/01/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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