DEIXAREI SAUDADE − 190

Postado por e arquivado em 2022, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Pois eis que veio um vândalo e pichou isso aí no meu muro¹. Será que ele sabia que estou sem ninguém dentro de mim e por isso resolveu me zombar? E o que é que eu tenho com isso? Sou um imóvel e como imóvel não tenho absolutamente nada com o que acontece no país, e muito menos com o que acontece aqui na Cidade, desde, óbvio, que não interfira nas minhas estruturas, que por sinal, desde quando surgi, são diferenciadas. Sem menosprezo às outras, mas, venhamos e convenhamos, sou muito bacaninha, né. Deixando essa pichação de lado, e que o responsável por ela reveja seus conceitos como ser humano, depois dos áureos tempos em que meus construtores me ocuparam, depois dos áureos tempos em que seus descendentes me proporcionaram muitas alegrias, durante algum tempo me vi ocupada por um comércio de exames dentários. Até gostei, pois é bom demais da conta a movimentação nas minhas entranhas. Toda eu, a partir de cada pedacinho de reboco, se contorce em felicidade por estar sendo útil. É, desde que surgi minha função como imóvel foi ser útil aos meus ocupantes. Mas e agora, sozinha, sem ninguém dentro de mim? E agora, percebendo esses monstros aí atrás de mim ocupando os nossos lugares? Meu telhado, minhas janelas, minhas portas, minhas cinco colunas e até a pouca vegetação à frente me insinuam: está chegando a sua vez! Ora, se meu construtor já se mudou definitivamente para a cidade dos pés juntos, seria muita pretensão minha uma existência eterna. Portanto, estou serena e, acima de tudo, sabedora que pertenço à História de Patos de Minas. E com a certeza absoluta de que, quando eu deixar de existir, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se no início da Rua Alfredo Borges.

* Texto e foto (28/01/2022): Eitel Teixeira Dannemann.

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