Só os mais novos imaginam que eu sempre fui assim arrumadinha. Nadica de nada. Aqui ao meu lado está esse monstrengo que tem uma agência do Banco do Brasil¹. Ora se não, eu era bem acabadinha no tempo em que não existia esse edifício aí e no lado de lá funcionava um supermercado da COOPATOS. Os mais rodados lembram disso. Então veio o tal edifício e, sei lá se meus donos se entusiasmaram com a nova obra, passei por uma cirurgia plástica legal. O visual ficou muito apreciável e eu feliz da conta sem perceber o que estava acontecendo ao meu redor, esse redor do Centrão da Cidade onde ainda permanecem de pé muitos prédios que deveriam ser preservados numa espécie de Centro Histórico de Patos de Minas, pois esses prédios tem tudo a ver com o que os nossos antepassados fizeram pelo nosso desenvolvimento. Ando encucada com isso, pois o progresso é voraz e não tem sentimento algum pelo nosso Passado. O vil metal é 480 mil vezes mais poderoso, nada segura isso. Os exemplos abundam e eu, que sou um simples imóvel e tenho consciência disso tudo, sei que o progresso vai consumir todos esses prédios históricos do Centro. Um ou outro até pode resistir. Esse Centro, com o tempo, vai se transformar numa ilha de edifícios enormes, alimentando a ganância da especulação imobiliária. E eu? Eu não sou nada frente a esse fatídico progresso. Do mesmo jeito que a antiga casa que cedeu lugar ao edifício aqui ao meu lado, fatalmente chegará a minha vez. E vou ser demolida com as estruturas tranquilas, sabendo que faço parte da História de Patos de Minas. E, o fundamental, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Major Gote entre suas colegas General Osório e Tenente Bino, chegando na Praça Antônio Dias.

* Texto e foto (10/04/2022): Eitel Teixeira Dannemann.