DEIXAREI SAUDADE – 61

Postado por e arquivado em 2018, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Não está sendo fácil amanhecer diariamente com este monstrengo do edifício esqueleto¹ a ofuscar a sensibilidade de minhas paredes. Há anos isso está aí a enfear toda a Cidade. Quando eu era ocupada por almas de várias espécies de comportamentos com seus comércios que quase sempre não obtinham sucesso, até que eu não prestava muita atenção naquilo. O que eu mais admirava era o movimento do 1.ª Via², o nosso primeiro centro comercial, o tal do shopping, para ficar chique. Lembro-me como se fosse hoje a euforia dos comerciantes e do povaréu que, na maioria das vezes, só ia lá para andar de escada rolante. E triste, como aconteceu com os vários negócios que me preencheram, foi presenciar, pouco a pouco, o esvaziamento daquela boa ideia que, para falar a verdade, não foi tão boa ideia assim criar um shopping sem uma praça de alimentação. Durante algum tempo ficou o prédio quase que abandonado e logo pensei que seria mais um edifício esqueleto. Graças, foi ocupado por uma faculdade e agora ele voltou a ter uma movimentação razoável.

E quem não está nada razoável sou eu, pois a cada ano que passa eu sou menos ocupada. Os pressentimentos vão longe e a cada prédio que surge ao meu derredor um calafrio estuporante se apodera de meus simples alicerces. Não sou entendida em assuntos econômicos. Sou, sim, por natureza própria dos imóveis, sucinta em captar emoções humanas. Todos sabem que as paredes têm ouvidos. Então, pelo que ouço, sinto e compreendo determinadas mudanças obrigatórias comandadas pela especulação imobiliária e que, na verdade, é quem determina para onde vai e para onde vem o inexorável progresso. É aqui, exatamente aqui, no inexorável progresso, que as antigas construções entram pela tubulação. Porque não adianta, o inexorável progresso é como um rolo compressor, que vem derrubando tudo que é velho, liberando espaço para o novo. É como diz a canção: Morre o velho, fica o moço, digo isso a toda hora, o que é verde amadurece e o que é velho se renova³. E assim, apreciando serenamente o intenso movimento da majestosa Rua Major Gote4, fico no aguardo do quando eu me despedirei definitivamente dos olhos humanos, olhos estes que sabem perfeitamente que faço parte da História de Patos de Minas. E quando eu desaparecer, deixarei saudade!

* 1: Leia “Edifício Esqueleto” e “Edifício Esqueleto Volta a Ser Notícia em 2014”.

* 2: Leia “1.ª Via Fez Festa de Apresentação” e “1.ª Via Shopping – 1996”.

* 3: Refrão final da música Redenção, autoria de Waltinho, do LP de mesmo nome gravado pela Banda de Pau e Corda em 1974.

* 4: O imóvel está localizado à Rua Major Gote esquina com a Rua Pará.

* Texto e foto (12/08/2018): Eitel Teixeira Dannemann.

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