Há muito tempo, não me lembro quanto tempo, tinha uma casa aí ao meu lado, simples como eu naquele tempo. Passado um tempo, que eu também não me lembro quanto tempo, meus donos me modernizaram. Fiquei feliz demais da conta, mas ao mesmo tempo triste porque o mesmo não aconteceu com a minha semelhante ao lado. Durante muito tempo, sem eu precisar esse tempo, o pessoal dessa casa ao meu lado costumava frequentar o pessoal que eu aconchegava. O tempo passou, sei lá quanto tempo, até que o pessoal da casa ao meu lado sumiu. Nós imóveis não temos noção do que representa o tempo, apenas sabemos que de tempos em tempos surgem outros tempos e que esses tempos substituem os outros tempos. Pois bem, derrubaram a minha vizinha e construíram esse edifício aí. E nessa de tempo, apreciando há muito tempo as transformações ao meu redor¹, fico a imaginar se o tempo será decisivo pra mim. Já passado um tempo, minha vizinha que se foi entrou para a História de Patos de Minas. Então me pergunto: quando o tempo vai decretar a minha vez? Por um acaso a saudade estanca o tempo? Por um acaso o tempo vai reconhecer o meu lugar e o que até hoje representei para as almas que aconcheguei e ainda aconchego? Não adianta ignorar os fatos, pois o tempo é inexorável. É o progresso, a evolução dos tempos, a extinção das casas em prol dos edifícios. Vai chegar o tempo da minha vez, e como a minha vizinha, também entrarei para a História de Patos de Minas. É questão de tempo, e deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua 24 de Maio entre suas colegas Maestro Randolfo e Dr. José Olímpio Borges.
* Texto e foto (19/09/2021): Eitel Teixeira Dannemann.