DEIXAREI SAUDADE − 140

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Imagine aí você, à meia-noite, passando em frente ao portão principal do Cemitério Santa Cruz quando percebe uma movimentação estranha entre os túmulos. Estancado os passos, seus olhos, curiosíssimos, procura por algo assustador. E ele lhe aparece, em forma de uma horrível alma penada. Imediatamente, o que você faz? Sai em disparada pela Rua Ouro Preto e só para de correr no Trevo da Pipoca. O porquê estou dizendo isso? Presta atenção nisso aqui ao meu lado. Num certo dia derrubaram a minha semelhante. Vertendo lágrimas através da minha caixa d’água, percebi uma movimentação estranha no terreno. Minhas atentas estruturas tijolais, curiosíssimas, procuraram por algo assustador. E ele, com o transcorrer dos meses, apareceu na forma desse edifício. O que fiz? Ora, nada. No seu caso, você pôde correr, eu não, tive que suportar o terror, terror esse que aumenta a cada ano, pois no meu entorno¹ as minhas semelhantes estão, inexoravelmente, sendo demolidas para ceder lugar ao famigerado progresso. É o que vai acontecer comigo. Mas quando? Eis o meu enorme dilema. Isso aí ao meu lado é como um câncer se espalhando dentro de mim e já atacando as minhas telhas. Nessa situação, não tenho salvação. Ei, você aí, História de Patos de Minas, já me registrou? Ótimo, então, para encerrar esse papo cadavérico, afirmo que, transformada em ruínas, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Avenida Ivan Borges Porto, a poucos metros da entrada do Parque do Mocambo.

* Texto e foto (12/10/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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