Essa troca do piso asfáltico da Rua Major Gote anda a mexer com os meus miolos argamásticos e paredais. Eu estou pertinho dela¹ e, sô do Céu, que poeirão danado. A gente sabemos, quer dizer, desculpe porque estou nervosa, a gente sabe, nós imóveis e os humanos, que não foram almas do além da estratosfera do planeta Vênus e almas do além da litosfera do planeta Netuno, que, numa briga cósmica, estragaram o piso da citada via. A gente sabemos, quer dizer, a gente sabe. Mas, pouco importa, pois poucos se importam com isso e eu sou um deles que só vou me importar comigo, pois o bicho começou a pegar para o meu lado. Por quê? Ora, humano, logo você que está morando num imóvel construído sobre os escombros de outro? É isso que me irrita. E ainda tem esse tal de Covid-19 que faz com que quase todo mundo, os conscientes, use máscara. Fato é que minhas semelhantes estão sendo literalmente consumidas pelo progresso. E esse progresso tem um nome: edifício. É nisso que vou me transformar: num edifício. Assim se tornarão todas as minhas semelhantes nesse meu entorno: edifícios. Essa é a triste realidade. Por um acaso tem boa realidade? Apesar de que chegará o dia em que não mais existirei, a boa realidade é que faço, inexoravelmente, parte da História de Patos de Minas. E quando eu não mais existir, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Sacramento, entre as suas colegas Major Jerônimo e Ana de Oliveira, a poucos metros da Major Gote, no Centro.
* Texto e foto (18/09/2020): Eitel Teixeira Dannemann.