DEIXAREI SAUDADE − 181

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Tinha uma gurizada aqui que vivia cantando: Coelhinho, se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso e enfiava a mão no… Coelhinho se eu fosse como tu… E assim ficava nisso, só nisso, um mundaréu de tempo até que um dos adultos mandava eles calarem a boca. Por pouco tempo, pois vinha outra: Eva coou o meu café e depois nunca mais Eva coou. E de novo ficavam repetindo isso até que novamente um adulto mandava eles calarem a boca. São lembranças do tempo em que eu aconchegava gente humilde nesse cadiquinho de espaço que sou eu¹. Aliás, esse cadiquinho de espaço que sou eu continua até hoje a aconchegar almas. Pouco me importa que almas são, pois a função dos imóveis é aconchegar almas, só isso. Vai daí que nessa do só isso de aconchegar almas, o tempo passou, e aqueles idos tempos ficaram pra trás. Tô dizendo isso porque sou muito reparadora. As transformações por aqui são absurdas e desastrosas pra nós, casas, por mais simples que sejam como eu. Sim, porque o que tem de casa de padrão superior cedendo lugar a edifícios é de assustar até eu. E se casas muito e muito mais poderosas que eu estão sucumbindo, o que posso esperar? Ficar lembrando das cantorias do Coelhinho e da Eva? E de que devagarinho chegará a minha leva? Se hoje, simploriamente de pé, ninguém nem me nota, podes crer que ao ser demolida entrarei para a História de Patos de Minas. E deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se no n.º 246 da Rua 24 de Maio, entre suas colegas Maestro Randolfo e Dr. José Olympio Borges, no Centro. Leia “Rua 24 de Maio”.

* Texto e foto (19/09/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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