Há datas que nem nós, imóveis, esquecemos jamais. No meu caso, foi quando fui inaugurada com a posse dos meus donos. Isso aqui era conhecido como Casas Populares¹, casinhas humildes para aconchegar gente humilde. E assim foi durante muitos anos, até que, pela presença da Faculdade, foi melhorando tudo por aqui, inclusive quase todas nós. Ainda restam algumas de nós como éramos naquele tempo. Era legal demais da conta apreciar as minhas semelhantes sendo retocadas. Até que comecei a perceber que, ao invés de serem retocadas, algumas de nós estavam sendo demolidas para ceder lugar a edifícios. Ainda assim, consegui me manter serena. Mas as argamassas de minhas paredes se eriçaram quando derrubaram a minha vizinha do lado e esse bitelo aí começou a ser erguido. E quando ele ficou pronto, outros começaram a surgir às minhas vistas. Triste, muito triste, sinto-me agora o contrário de outrora. Para piorar a nuvem negra que paira sobre o meu destino, ainda tem esse tal de Covid-19 que, através da TV, estou sabendo que é uma disgrameira danada que está matando muita gente. Será que eu pego isso? Só me faltava essa! Com todas as mudanças estruturais que estão acontecendo no meu entorno, já me considero que entrei pela tubulação. Fazer o que? É esperar pacientemente o meu fim sabendo que faço parte da História de Patos de Minas. E quando eu não mais existir, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua José Augusto de Queiroz, em frente à Praça Zequito Rocha, no Bairro Abner Afonso. Leia “Anunciada a Construção das Casas Populares”.
* Texto e foto (24/07/2020): Eitel Teixeira Dannemann.