É com ardor e louvor que tenho orgulho de dizer que minhas paredes foram levantadas na fase mais nobre do futebol patense, que foi a década de 1950. Falo isso baseado no que ouvia constantemente daqueles que me ergueram. Naquele tempo, eu, com meu telhado novo e meus cômodos novos, não me conformava com a poeira do estio e muito menos com a lama das chuvas que reinavam na rua, hoje denominada Afonso Pena. Eu fui erguida por quem faz parte da História do futebol patense, daquela era de ouro. Quanto à poeira e à lama, muito ouvi das almas que me habitavam um falatório danado sobre o asfaltamento da primeira rua da Cidade em 1950, a tal de Tenente Bino¹, acima da nossa. Por que decidiram por ela? Ninguém sabe! Eu fiquei pronta em 1953² ouvindo a reclamação sobre a demora em se acabar com a poeira e a lama da nossa rua. Ora bolas, um craque do Mamoré me habitando e nós na poeira e na lama!

Eis que o tempo é inexorável. O tal do tempo, quando não prestamos atenção nele, é mais rápido que um corisco no céu tempestuoso. De repente, percebi que a minha rua e todas no nosso entorno estavam asfaltadas e que minha estrutura física não era a mesma. De repente, percebi que a Camisaria OK não mais existia. De repente, comecei a sentir um vazio tremendo. É o cruel tempo nos levando os entes queridos, seja por direcionamento de vida, seja por ida sem volta. Cruel destino. Hoje, os jovens que passam por mim não têm a mínima ideia do que já fui. Mas, felizmente, ainda tem gente que, quando passa em frente à minha fachada, recorda com saudade das almas que me habitaram. Independente de qualquer situação, só importa para mim, nada mais, que faço parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!

* 1: Leia “Tenente Bino: A 1.ª Rua Asfaltada”.

* 2: O imóvel localiza-se na Rua Afonso Pena, entre as Praças Antônio Dias e Dom Eduardo.

* Texto e foto (20/05/2018): Eitel Teixeira Dannemann.