BORRELIOSE CANINA

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A Borreliose Canina, ou Doença de Lyme, é uma enfermidade de caráter infeccioso que acomete mamíferos domésticos, selvagens e seres humanos. Possui como agente etiológico espiroquetas do gênero Borrelia, sendo transmitidas por meio do repasto sanguíneo de carrapatos, no Hemisfério Norte habitualmente do gênero Ixodes, contudo as infecções em animais domésticos e nos seres humanos em território nacional parecem ter uma maior ligação com o Amblyomma cajennenses. Outro modo de transmissão possível, porém menos recorrente, é a transmissão vertical em cadelas Desenvolve-se, na maior parte dos casos, de forma assintomática ou com apresentação de sinais inespecíficos. Quando não tratada, pode ocorrer disseminação das espiroquetas para outros órgãos, levando a quadros mais severos. Possui grande relevância para a saúde pública, tendo em vista que é uma zoonose na qual animais domésticos e selvagens − principalmente roedores e cervídeos − podem atuar como reservatórios no ciclo da doença. Foi descoberta nos Estados Unidos em 1975, na comunidade de Old Lyme, nome pelo qual a doença ficou conhecida – Doença de Lyme. A partir de 1980, casos começaram a serem relatados no Brasil, principalmente nos estados de Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Amazonas e São Paulo.

A infecção não ocorre imediatamente após o início do repasto dos carrapatos. Estima-se que a mesma se inicie em cerca de 48h após o início do parasitismo. Após a inoculação ocorre a multiplicação local com aparecimento de eritema migratório, geralmente presente em humanos (Figura 2). A bactéria passa por um período de incubação que dura de uma a cinco semanas e em seguida ocorre a disseminação hematógena. Acredita-se que após a disseminação pela circulação sanguínea haja migração da bactéria para tecidos intersticiais, especialmente os que são ricos em colágeno, onde se estabelecem e posteriormente migram para outros locais como tecido nervoso, renal, cardíaco, musculatura e articulações causando surtos agudos de meningite, encefalite, endocardite, glomerulonefrite e claudicações, dentre outros problemas. O fim da fase aguda parece estar associado com a ativação de Linfócitos B após cerca de três a seis semanas culminando com um aumento da produção de IgM onde a doença pode evoluir para cura ou dar início a manifestação tardia da infecção onde as bactérias podem permanecer em latência por longos períodos manifestando-se em picos de imunossupressão apresentando problemas contínuos de prognóstico reservado.

Grande parte dos cães infectados quase não apresentam sinais, em torno de 5% dos animais apresentam algum tipo de sintomatologia. Os sinais inespecíficos na forma aguda incluem hipertermia, apatia, depressão, anorexia, linfadenomegalia, diarreia, conjuntivite, vômitos, córnea opaca, e claudicação. A claudicação inicia-se, geralmente, no membro mais próximo à picada do carrapato e se não for tratada pode evoluir para poliartrite não erosiva crônica, que pode permanecer mesmo após o tratamento e cura. Quando não realizado tratamento, pode ocorrer disseminação para o fígado, meninges, coração, líquido cefalorraquidiano e rins. Os sintomas da neuroborreliose estão ligados a alterações comportamentais, agressividade e convulsões. Na forma cutânea é possível visualizar urticária, dermatite úmida e eritema. Com o avanço da doença, pode ocorrer grave nefropatia. Este quadro ocorre em 5% a 10% dos cães infectados, possui um curso progressivo e, em muitos casos, fatal.

É necessária realização de terapia de suporte para cada caso, inclusas as alterações renais e quadros de poliartrites, comuns nessa enfermidade. O tratamento da causa de base, como em infecções causadas por bactérias, é realizado com o uso de antibióticos, existindo uma gama considerável quanto aos fármacos utilizados.

A maneira mais eficiente de proteger a si mesmo e ao animal, e de diversas outras transmitidas por artrópodes, é não ter contato com o ectoparasito, evitando regiões de riscos como locais que tenham florestas, parques e áreas que tenham sido desmatadas a pouco tempo. Outras maneiras como a utilização de ectoparasiticidas, podendo ser tópicos, sistêmicos ou em pó, xampus, coleiras, remoção de áreas de vegetação peridomiciliar ou manejo do ambiente para o controle do vetor também se mostram eficazes.

Ao longo dos últimos 40 anos a Borreliose Canina tem se estendido pelo mundo, tornando-se endêmica em alguns lugares e apresentando focos de infecção em regiões que a princípio não possuíam a doença. O seu caráter zoonótico, as diversas manifestações clínicas apresentadas por animais e seres humanos susceptíveis, bem como a vasta gama de reservatórios naturais e potenciais vetores biológicos tornam relevante a realização de pesquisas para conhecer de maneira mais específica o ciclo dessas bactérias e sua patogenicidade a fim de evitar a disseminação da mesma, especialmente em áreas com potencial de risco, e direcionar a melhor conduta terapêutica para o tratamento desta afecção. Ressalta-se ainda que medidas profiláticas para evitar a disseminação da doença por meio do controle dos vetores são de fundamental relevância e devem compor o manejo de cães.

* Fonte: Borreliose Canina, de Siham Kassab, Emerson da Silva Dankar, Jair de Albuquerque Pereira, Luiz Alexandre Brilhante Ferreira e Marcelo Fernando Gomes Montozo, publicado em conhecer.org.br em 30/06/2020.

* Foto: Animais.umcomo.com.br.

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