DEPRESSÃO CANINA

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Assim como no caso dos seres humanos, problemas de natureza psicológica também podem se manifestar em animais, e a depressão em cães é um diagnóstico cada vez mais frequente. Podendo estar associada a outras questões – incluindo ansiedades e fobias, por exemplo – o estado depressivo de cachorros pode ser desencadeado por uma série de motivos diferentes, incluindo desde uma mudança de ambiente até a recuperação de uma enfermidade mais grave.

Notando a grande quantidade de sinais de depressão em cães, a Universidade de Bristol realizou uma pesquisa para investigar as possíveis causas e tratamento desta doença e, conforme já era previsto, teve a prova desse tipo de problemas em animais – contrariando grande parte dos profissionais da área animal que, até então, consideravam a depressão canina um mito. O estudo, apresentado no jornal Biology Letters (especializado na publicação de artigos científicos e descobertas inovadoras da biologia), fez o uso de métricas e observações aplicadas na psicologia humana para chegar aos seus resultados finais, provando que – assim como no caso das pessoas – os animais também podem demonstrar um estado emocional mais vulnerável e sensível a perdas e traumas.

Não tendo raças mais propensas a desenvolver esse tipo de problema psicológico, a depressão canina pode ter muitas razões de ser similares às dos seres humanos (como a perda de uma pessoa próxima ou da liberdade), sendo que muitos dos sintomas e dos tipos de tratamento também podem apresentar semelhança. Confundida com a SAS – Síndrome da Ansiedade de Separação – em alguns casos, a depressão em cachorros também pode fazer com que o animal se comporte de maneira ansiosa e atípica e, justamente por isso, é de grande importância que os donos de cães saibam como observar e identificar os sinais que indicam o estado depressivo de seus companheiros.

Podendo ter variados fatores como desencadeadores do estresse que leva à doença, a depressão canina tem nas mudanças bruscas na vida do animal algumas de suas principais causas. Mudanças na rotina e de ambientes podem facilitar um estado de estranhamento e ansiedade por parte dos cães, e isso pode influenciar significativamente para que seu amigo comece a parecer mais desanimado. Como no caso dos humanos, a morte de alguém muito próximo também pode ser um gatilho para o surgimento da depressão – assim como o afastamento de um de seus amigos. Segundo os profissionais da saúde animal, as perdas afetivas são causa de 70% dos casos de cachorros com depressão.

A inclusão de outro animal na vida do seu companheiro acostumado a ser o único bicho de companhia da casa também é um fator relevante para o aparecimento do estresse, e deve ser levado em consideração. A perda de liberdade (quando o cão fica privado de caminhadas e passeios constantes, por exemplo) e experiências traumáticas – como cirurgias e atropelamentos – não ficam de fora da lista, e animais que estão em fase de recuperação de alguma doença mais séria também podem apresentar comportamentos alterados de apatia. O sentimento de solidão ou abandono ainda é uma das principais motivações para que se desenvolva uma depressão em cachorros, já que, nos dias de hoje, o cotidiano frenético vivido nas grandes capitais acaba fazendo com que os donos não possam dar a atenção devida aos seus animais, que passam muito tempo sem companhia e se sentem abandonados.

Assim como no caso da suspeita de qualquer outra doença, ao notar os primeiros sinais de depressão em seu cachorro, uma consulta deve ser agendada com um Médico Veterinário, pois somente ele terá as ferramentas e informações necessárias para identificar um possível problema psicológico, e diferenciá-lo de outras muitas doenças que também podem ter a apatia e a falta de ânimo como sintomas. Dito isso, podemos citar isolamento, tristeza profunda, falta de apetite e rejeição ao toque físico entre os principais sintomas de um cão deprimido.

Para os donos mais atentos e mais próximos, não é difícil notar a mudança brusca de comportamento que o animal apresenta, pois, mesmo os cães mais animados e carinhosos, de uma hora para a outra passam a evitar atividades que costumavam se apresentar como prazerosas (incluindo passeios e brincadeiras com seu proprietário, por exemplo), preferindo permanecer em algum cantinho da casa e completamente isolados. Em alguns casos, o cão chega à automutilação, se mordendo normalmente em extremidades como rabo e patas e causando lesões sérias em si mesmo.

Outro sinal típico do estado depressivo em cães é a intolerância ao toque físico, sendo este um dos sintomas mais fáceis de se identificar. Um cão deprimido tentará evitar a todo custo os carinhos e manhas feitos pelo seu dono – que antigamente eram recebidos com alegria e entusiasmo. Portanto, ao notar que o cão está apático e agindo de acordo com os comportamentos descritos acima, preste atenção e agende uma consulta com um profissional Médico Veterinário o quanto antes.

Embora os fatores de motivação da doença sejam muitos – e nem sempre possam ser remediados pelos donos – há muito que se possa fazer para que um possível estado depressivo não faça parte da vida de seu cão de companhia. Tendo em vista as principais causas que desencadeiam a doença, os proprietários devem, sempre, evitar mudanças muito súbitas, buscando manter uma rotina predeterminada em relação a passeios, brincadeiras, ambientes e companhias. Dar carinho e atenção – além de proporcionar um ótimo sentimento de conexão e amor entre você e ele – também pode ser importante para evitar um caso de depressão canina, e os proprietários devem evitar ao máximo passar longos períodos de tempo longe deles – principalmente, nos casos em que o cachorro fica sem nenhum tipo de acompanhante enquanto o dono está ausente.

Diferentes tipos de medicamento e atividades podem ser recomendados pelos Médicos Veterinários para que seja feito o tratamento do estado depressivo, e as indicações variam de acordo com o grau e a intensidade da doença em cada animal. Remédios homeopáticos (incluindo as famosas gotinhas dos florais de Bach), antidepressivos e outros medicamentos alopáticos diversos podem ser prescritos, sendo que combinação de tais produtos com atividades físicas também traz ótimos resultados. Da mesma forma em que os antidepressivos são usados no tratamento da depressão de humanos e animais, os cães também podem contar com terapias especiais para ajudar no tratamento da doença.

Na maioria dos casos, as sessões terapêuticas caninas são indicadas quando as causas da mudança de comportamento do animal são desconhecidas pelo dono. O Médico Veterinário – que atua, nestas situações, como um psicólogo – irá observar o comportamento do animal (de preferência, junto a seu proprietário) para tirar uma conclusão mais precisa sobre o fator que desencadeou a doença, podendo, desta forma, elaborar o tratamento mais adequado para que o cão saia deste estado. Junto com isso, vale lembrar que mimar bastante os cachorros com este tipo de problema nunca é demais. Um quadro depressivo em cães pode ser bastante amenizado pelo carinho de seus donos e sua família, podendo, inclusive, diminuir a necessidade de outros tipos de técnicas e medicações que fazem parte dos tratamentos mais tradicionais.

* Fonte: Texto de Fábio Toyota, Médico Veterinário (CRMV- SP 10.687), formado pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – Unesp com Pós Graduação em Oncologia Veterinária pelo Instituto Bioethicus e Pós Graduação em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais pelo Instituto Qualittas. Responsável pelo setor de Oncologia Médica e Cirúrgica do Hospital Veterinário Cães e Gatos 24h. Dr. Toyota é integrante da equipe de Veterinários do portal CachorroGato e também responde por dúvidas na ferramenta Dr. Responde. Publicado em Cachorrogato.com.br com o título “Depressão em Cães – Atenção aos sinais de depressão no seu pet”.

* Foto: Vidanimal.com.br.

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