LEPTOSPIROSE CANINA

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Duas formas clássicas de Leptospirose são conhecidas no cão: uma é a forma ictérica, em que há também o comprometimento renal, causada pelas leptospiras do grupo icterohaemorrhagiae. A doença se caracteriza por ser de evolução aguda, principalmente nos cães mais jovens, culminando com o óbito em alguns dias. O principal sintoma que chama a atenção dos proprietários e do veterinário é a icterícia.

A outra forma da doença, causada mais comumente pelo sorovar canicola, caracteriza-se pelo comprometimento renal que resulta em insuficiência renal e elevação de ureia no sangue (uremia), sem o aparecimento de icterícia. O quadro clínico é de evolução mais lenta e os sintomas predominantes são os gastroentéricos: vômito (emese), diarreia (nem sempre), ulcerações na cavidade oral e necrose da língua, nos casos mais avançados. A infecção também pode ser inaparente. Nos casos mais benignos da nefrite intersticial crônica, o cão pode eliminar leptospiras na urina por um longo período de tempo.

Na presença de um cão em que a história clínica e o exame físico são compatíveis com leptospirose, o exame laboratorial é imprescindível para o diagnóstico. O tratamento consiste basicamente na instituição de antibioticoterapia apropriada e terapia de suporte direcionada ao quadro clínico de cada animal, independentemente do sorovar envolvido na infecção. O principal objetivo da administração dos antibióticos é diminuir a multiplicação sistêmica do agente e diminuir o seu período de eliminação na urina.

As vacinas utilizadas mundialmente contêm antígenos que imunizam contra os sorovares icterohaemorrhagiae e canicola, os mais prevalentes na maior parte do globo terrestre. Em alguns países ou áreas específicas, a utilização extensiva dessas vacinas diminuiu consideravelmente os casos de leptospirose causados por esses sorovares. Em contrapartida, outros sorovares passaram a ser detectados, como consequência do contato do cão com os reservatórios (animais silvestres) ou com o meio contaminado, onde vivem os portadores naturais. Idealmente, nesses casos, as vacinas devem conter as bacterinas ou antígenos específicos. Por outro lado, o aumento de antígenos predispõe ao aparecimento de maior número de reações de hipersensibilidade. Assim, recomenda-se que as vacinas caninas contra a leptospirose contenham apenas os antígenos que promovam proteção para os sorovares prevalentes naquela região.

Não se conhece ao certo a duração da imunidade dada pelas vacinas. Na maior parte das vezes, o título de anticorpos praticamente torna-se nulo em três a nove meses após a vacinação. Acredita–se que a imunidade pós-vacinal também seja curta, recomendando-se dose de reforço a cada seis meses para os animais que estão altamente expostos ao risco da infecção. Isto significa que a recomendação de imunização anual pode deixar os cães desprotegidos por um período variável de tempo, antes da aplicação da próxima dose dos imunógenos. A vacina protege contra o desenvolvimento da doença, mas não previne contra a colonização do rim e a eliminação urinária das leptospiras quando ocorrer a infecção natural. Portanto, não previne quanto ao estado de portador.

Cães protegidos com vacinas desenvolvem anticorpos mais precocemente quando infectados por outros sorovares patogênicos quando comparados aos cães não vacinados. A infecção resultante é mais benigna. As vacinas não estão isentas dos riscos de reação colateral. As reações de hipersensibilidade que podem ser desencadeadas estão associadas a resquícios de proteína do meio de cultura, no qual as bactérias foram cultivadas, e à presença de adjuvantes. Cada componente vacinal (sorovar) deve ser cultivado isoladamente e preparado como antígeno vacinal.

A prevenção da leptospirose canina não se baseia exclusivamente na imunoprofilaxia. As medidas sanitárias gerais incluem controle dos roedores, limpeza do ambiente, com a remoção dos resíduos sólidos e líquidos, e restrição de acesso ao ambiente externo ao domicílio, principalmente nos períodos de maior precipitação pluviométrica em que ocorrem enchentes e formação de coleções líquidas residuais, nas quais as leptospiras permanecem viáveis por um período maior de tempo.

Nos Estados Unidos e no Canadá, os casos de leptospirose pelo sorovar grippotyphosa ou pomona ocorrem principalmente após período de alta precipitação pluviométrica e inundações entre os cães que habitam a zona rural ou nas periferias das cidades, onde existem os roedores e mamíferos portadores naturais desses sorovares. São considerados, portanto, fatores de risco para a leptospirose a atividade do cão (caçador, pastoreio, guarda), as condições sanitárias do ambiente, a existência de portadores naturais e os períodos de chuva.

* Fonte: Texto de Mitika K. Hagiwara (Prof.ª Titular – Colaboradora do Departamento de Clínica Médica, USP), Marcio Lustosa (Pós-graduando-Mestrado em Clínica Médica, USP) e Marcia Mery Kogika (Prof.ª Associada – Departamento de Clínica Médica, USP) publicado no n.º 67, Ano XI-2004, da revista Vet News.

* Foto: Debateanimal.com.

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