DEIXAREI SAUDADE − 118

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Minhas paredes têm ouvido palavras interessantes vindas da Igreja do Rosário¹. Dia desses alguém disse que a infelicidade atormenta qualquer ser humano, e que não existe alguém que nunca tenha experimentado num determinado momento de sua vida a infelicidade, e, gerando-a, estão a agitação e a alucinação da vaidade, que calam a consciência dos mortais. A culpa o orador colocou na ausência de Deus no coração. Eu, como imóvel, não tenho a mínima noção do que é sentir isso. Outro dia, ouvi de lá uma voz dizendo que ciúme, inveja, orgulho, tudo isso causa infelicidade, que, indubitavelmente, prossegue para a melancolia, que é quando uma tristeza medonha se apodera dos corações pela vida tão amarga. E assim vou ouvindo e reparando nas humildes almas que me habitam. Ó, a humildade, essa virtude tão pouco valorizada pelos humanos. Como eu disse, nós, imóveis, não entendemos isso, mas tem alguns de nós que sofrem as dores dos seus construtores. Sei lá como se dá isso, como, por exemplo, certa vez quando a morte aqui veio e acusaram Deus de injusto. Isso é coisa dos humanos, deixo pra lá. O que mais eu aprendi e guardei com firmeza nos meus rebocos, de muito ouvir comentários, é que também vou morrer, isto é, um dia serei derrubada para ceder espaço ao novo, como sempre acontece com os humanos. E como eu não tenho e nunca tive essas frescurites humanas, na minha simploriedade, firme e forte na História de Patos de Minas, irei com uma baita certeza: deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Travessa Maria Inês de Jesus, lateral direita da Igreja do Rosário.

* Texto e foto (28/02/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe