Quem me viu antes se espanta com meu aspecto de hoje. Fui pintada e, sem convencimento, estou irresistivelmente bonitinha. Eu até estranhei, porque imaginava acontecer comigo o que está acontecendo com as casas: derrubadas para serem ocupadas por edifícios. Ó um aqui ao meu lado, na esquina com a Rua Gabriel Pereira. Essa minha rua¹ ainda não tem nenhum, mas, pelo visto, o pessoal simples daqui não vai conseguir resistir ao famigerado progresso. Mais dia ou menos dia nós todas vamos ser engolidas pelo progresso, é inevitável. E quando eu penso nisso bate uma saudade danada dos meus tempos de então. Tanta saudade que certo dia, ouvindo de dentro de mim uma música que dizia não sei por que você se foi, quantas saudades eu senti, e de tristezas vou viver, e aquele adeus não pude dar², lembranças da minha semelhante que ficava ao lado, que se eu pudesse chorar inundaria todos os meus cômodos. Felizmente, num lapso eu volto à realidade, para a consciência de que sou apenas um imóvel, nada mais que um imóvel que desde que surgi aconchego almas e assim vai ser até o meu fim. Afinal, não há nada nesse mundo que elimine a realidade de um imóvel, pois não temos poder de decisão. Chegada a nossa hora, é o fim e pronto. Eu sei lá quando vai ser a minha hora, mas, quer queiram ou não, faço parte da História de Patos de Minas, e assim que eu deixar de existir, deixarei saudade!
* 1: Rua do Vilela, no Bairro Rosário.
* 2: Gostava Tanto de Você, música de Edson Trindade gravada em 1973 por Tim Maia.
* Texto e foto (09/02/2020): Eitel Teixeira Dannemann.
