EMBATE ALCOÓLICO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Lá vinha o Tião Quaresma, 26 anos, cambaleando pela Rua José de Santana às 11 horas da noite já chegando ao Cemitério Santa Cruz. Por que o Quaresma? Ora, ele ganhou esse apelido porque nasceu na Quaresma. Por que cambaleando? O mequetrefe é chegado em qualquer líquido aditivado com álcool, e quanto maior o ter de álcool, bão demais da conta. Nisso, lá vinha uma sirigaita em sentido contrário, mais cambaleante ainda. No que os dois deram o passo para o mesmo rumo, veio o embate, e cada um beijou o asfalto. A dita sirigaita, mais firme nas pernas, se levantou e com uma enorme dificuldade chegou até o posto policial ali ao lado, na Praça João Senhorinho, hoje mais conhecida como Projeto Saci, e acusou o outro etílico de agressão. Pronto, Tião Quaresma foi detido pelos policiais. Um deles perguntou e houve esse diálogo, com o chapado custando a falar:

– O senhor é casado?

– Sim.

– Com quem?

– Ora, com uma mulher, tá me estranhando?

– Seu engraçadinho! Sabe quanta gente morre por ano por causa de bebidas alcoólicas?

– A água mata muito mais gente.

– É duro… você está muito bêbado e agora vai explicar porque agrediu aquela mulher e…

– É duro digo eu, você nem faz ideia de quantos morreram no dilúvio e nos inúmeros tsunamis… ái, que saudades de meu filho, não fuma, não bebe, nunca chegou tarde em casa, que exemplo, quanto tempo eu não vejo ele…

– Quantos anos tem seu filho?

– Seis meses.

– Olha, prezado, é melhor parar com as gracinhas. Você bebeu demais e está encrencado por ter agredido aquela mulher…

– Que mulher?

– Aquela ali que lhe acusou.

De repente, os dois manguaças se levantaram, se encararam e partiram para as vias de fato. Foi um sufoco separá-los. E depois de separados, olharam-se e, pasmem, se abraçaram aos prantos. Esquisito? Na base da explicação, nada mais eram que marido e mulher, esta conhecida por Maria Fundão, 21 anos. O marido e mulher foi de propósito, para evitar juntados. Alcoólatras e vivendo de bicos, moram num casebre no Bairro Várzea. Estavam num boteco ali por perto, quando, ao saírem, mais perdidos que cegos em tiroteio, cada um foi para um lado. Veio então aquele embate e, para encerrar o assunto familiar, Tião Quaresma e Maria Fundão foram liberados, saindo os dois abraçadinhos como dois apaixonados. Ah, uma tia tem a guarda da citada criança de seis meses filha dos manguaçados.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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