Ficar só não é nada agradável, que o digam os seres humanos. E os seres humanos, por considerarem um imóvel como artefato material, como uma propriedade que se tem e se descarta quando bem entende, pouco importando se o imóvel lhes acomodou por anos a fio, nem imaginam que um imóvel é vida, é existência e também tem sentimentos, sentimentos estes que eles nunca compreenderão. Nós imóveis, como eu¹, independentemente da sutil simplicidade, pois se dá até com as mansões, temos uma aura que sei lá de um vem, que nos fazem ter desejos intensos de sobrevivência. Somos imperecíveis, bastando-nos reparos para engolir os séculos. Mas os humanos, que não sabem dos nossos dons, quando cansam de nós pelos motivos que só interessam a eles, simplesmente nos abandonam, nos derrubam e sobre nossos escombros erguem outro imóvel, que, inexoravelmente, com o passar do tempo, vai também ser derrubado e assim sucessivamente. Já ouvi dizer que isso é um tal de progresso. A designação não importa, importa para mim que, ao murarem a minha entrada, enviaram-me o bilhete azul. Então, nada mais me resta a não ser esperar o meu embarque para o além. Vou serena na minha simplicidade, mas sabedora que faço parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua São Geraldo, entre a Praça José Rodrigues de Carvalho e a Rua Quirino Fonseca, no Bairro Cerrado.
* Texto e foto (30/05/2020): Eitel Teixeira Dannemann.