Algo estranho mudou totalmente o comportamento das almas que me habitam. Que trem esquisito é esse? Por que praticamente não mais recebem visitas? Ouvi que a Festa do Milho foi cancelada por causa desse troço e Patos de Minas e até o mundo está de cabeça para baixo. Minhas estruturas tijolais não têm capacidade de compreender o que está acontecendo. Eu só sinto que nada mais é como antigamente. Aqui dentro de mim o assunto minuto a minuto é sobre um tal de Covid-19 que está ceifando vidas por todo o planeta, e é ele o responsável pelas mudanças em tudo quanto é lugar. Aí eu me pergunto: − O que é que eu tenho com isso? Sou um imóvel, não tenho nada a ver com tudo isso. Enquanto o povo daqui está preocupado com essa coisa, minha preocupação é com minhas estruturas, pois, só eu tenho preocupação com minhas estruturas, enquanto eles só se preocupam com a saúde deles, com o futuro deles, e só. Com o meu futuro, nem aí. Qualquer humano que passar por mim¹ vai perceber que no entorno minhas semelhantes estão sendo derrubadas para a ocupação de edifícios. É o inexorável progresso, e eu sei que vai chegar o meu dia. Antigamente, a cidade crescia para os lados. Com o tal progresso, ela cresce para cima. E assim, crescendo para cima, nós nos transformamos em inutilidade, mesmo depois de tanto aconchego que proporcionamos aos nossos habitantes. Então, que os humanos se preocupem com o Covid-19 e eu, junto com as outras, nos preocupemos com o dia do nosso juízo final. Ora, sou incisiva na História de Patos de Minas, e quando chegar o meu fim, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Dona Luiza entre suas colegas Pará e Maranhão, no Bairro Lagoa Grande.
* Texto e foto (18/05/2020): Eitel Teixeira Dannemann.