DEIXAREI SAUDADE − 108

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Estou confusa, muito confusa. Devo estar sofrendo de alguma síndrome humana, se isso é possível. Será que problemas psicológicos humanos podem afetar minhas estruturas paredais, minhas portas, minhas janelas, meu telhado? Seria maníaca, neurótica ou psicótica? Deve ser um troço desses aí, só pode, porque estou chegando numa situação que já não estou sabendo quem sou e até quem fui. Aliás, minto, já fui só casa, casa e comércio, voltei a ser só casa, depois voltou o comércio e agora sou só casa novamente. No meio dessa minha desconjuntada psiquê, fico mais acabrunhada ainda com a predaiada que anda surgindo por aqui¹. Estou ansiosa demais da conta por causa dessas transformações físicas. O trem está sendo rápido demais e isso me agonia de um jeito tal que até parece que peguei o transtorno bipolar, pois tem dia que sou calma e noutro estou fula da vida. Cruz credo, gente, que trem doido. Fico reparando as almas que me habitam e não percebo nelas vontade de permanecerem aqui. E lá vem outro edifício… e mais um… e mais outro. Meus donos sabe-se lá o que estão pensando. Mas eu penso, e enquanto penso, fico cada vez mais obsessiva com a ideia de que está chegando a minha hora. Aquele pardal que amanheceu morto em frente a minha porta da cozinha seria um sinal? Lá vem outro edifício e eu cada vez mais frustrada e insatisfeita com a minha existência, simples, mas real. Mas uma coisa é certa: não vou ficar histérica, jamais, como não fiquei quando vi o pardal morto. Serei digna, como digna representante da História de Patos de Minas. Se ninguém sente saudades do pardal morto, quando eu morrer, ora se não, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Rui Barbosa com sua colega Vereador Manoel Machado, no Bairro Lagoa Grande.

* Texto e foto (04/02/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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