A maioria das pessoas que passam em frente a minha humilde estrutura mal percebe que eu existo. Os olhos dos humanos estão treinados para apreciarem o belo. Como as pessoas não encontram em mim o belo, de soslaio me encaram com desdém, como se eu significasse unicamente uma pobre residência que hoje não tem mais utilidade alguma. Quer dizer que se hoje não tenho mais utilidade alguma por estar abandonada significa que, justamente por isso, por hoje eu estar entregue ao leu, tenho mais é que me danar? E o que representou todo o tempo que aconcheguei muitas almas, que na minha simplicidade dei a eles um teto? É, tá bom, sei que esse teto, as paredes e tudo mais foram eles que construíram me transformando nesse pequeno caixote habitável. Concordo, transformei-me, quer eu queira ou não, em seus lares. Pois é, eles me transformaram em seus lares, e como seus lares, dei-lhes aconchego, aconchego esse que foi jogado na lata de lixo ao me abandonarem. E agora? Sozinha aqui, desapreciando as metamórficas mudanças estruturais na redondeza, isto é, edifícios ocupando os nossos lugares, e agora, esperar os homens chegarem para me demolirem? Sim, sim, mil vezes sim, acabem logo com essa minha desesperança e que instalem aqui no meu lugar um imenso edifício. Sob essa nova construção, estará para sempre uma parte da História de Patos de Minas, e, com garbo, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Ubá entre suas colegas Padre Antônio de Oliveira e Ervália, divisa dos Bairros Aurélio Caixeta e Vila Garcia.
* Texto e foto (07/03/2021): Eitel Teixeira Dannemann.