Genivaldo trabalhava numa fazenda perto da localidade de Mata dos Fernandes. Quando casou com Helena, o patrão fez questão de construir uma casinha muito do confortável para o casal, afastado da sede. Como era muito querido pelo empregador, pouco tempo depois recebeu como prêmio uma área de um alqueire, quase cinco hectares, para que ele pudesse usufruir como quisesse. Enquanto o marido dava duro nos seus afazeres rotineiros, a marida, quer dizer, a esposa, mandava ver na sua rotina de dona de casa e ainda cuidava dos pormenores da horta e do chiqueiro, pois vindo do trabalho, antes de encerrar o expediente, o Genivaldo dava o trato final.
O tempo passou, o patrão faleceu, a patroa foi morar com um filho e a fazenda se viu abandonada. Enquanto isso, Genivaldo e Helena incrementaram a produção rural no seu pequeno espaço e viviam bem. E a fazenda lá, abandonada, e os dois não sabiam que o pau estava quebrando na Justiça entre os herdeiros. Estes resolveram, então, vender a fazenda, e o Genivaldo e a Helena, com três filhos menores de 10 anos, receberam uma intimação para abandonar o local.
Não restou alternativa ao casal procurar um Advogado que logo entrou em ação. E logo depois, a fazenda foi vendida e Genivaldo e Helena puderam permanecer no seu chão até a Justiça proferir a decisão. Coitados, sofreram, pois os novos proprietários os hostilizavam diariamente para que eles caíssem fora, chegando a cortar a luz da casinha dos dois. E o tempo foi passando: um ano, dois, cinco, sete, e nada do Juiz dar um veredito final.
Incomodado demais da conta com a demora da decisão do Juiz, o Advogado enviou ao Fórum Olympio Borges uma reclamação se dirigindo ao magistrado como ESSELENTÍSSMO JUIZ. Não deu outra: o Juiz devolveu a reclamação por causa do erro grosseiro de português sobre a sua representatividade, não admitindo jamais que um Advogado pudesse cometer tal erro ortográfico.
Eis a resposta do Advogado:
A expressão pode realmente dar a entender que eu, como Advogado, expus ao ridículo a excelência dos meus serviços inúmeras vezes já demonstrados eficientes, pois o erro ortográfico é mesmo grosseiro. No entanto, perante todas as provas apresentadas atribuindo aos meus clientes a autenticidade de sua propriedade sobre o terreno, a morosidade da decisão extrapolou as raias do admissível. Por isso, anulando a junção inapropriada de duas palavras, fica simplesmente ESSE LENTÍSSIMO JUIZ.
Depois dessa golpe de mestre do Advogado, e com as provas irrefutáveis, o ESSELENTÍSSIMO Juiz acelerou e em menos de um mês deu ganho de causa ao casal. Sabedores que seriam eternamente hostilizados pelos vizinhos, fizeram questão de vender o terreno e com os três filhos se mandaram para não se sabe aonde.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.