DEIXAREI SAUDADE – 24

Postado por e arquivado em 2017, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Sabe por que você está me vendo agora? Simplesmente porque um enxerido esteve aqui e me fotografou, assim, toda descabelada e sem nenhuma maquiagem. Nem o muro que me acoberta da curiosidade alheia me protegeu. Está na cara que ele viu a placa de vende-se no muro e tão só por isso veio me importunar. E pior, mostrar aos outros a minha solidão e abandono. Eu que, humilde desde que fui erguida, hoje sou tratada como traste, depois de anos e anos aconchegando muitas consciências. É a vida, fazer o que! Mas, você aí, jamais esqueça de que desde o primeiro tijolo assentado passei a pertencer à História de Patos de Minas, tanto quanto os casarões da elite. As consciências que me habitaram eram humildes, e assim surgi no mundo. Aqui onde espero o meu infalível fim, na Rua Atenas entre Três Marias e Uberaba, no Bairro Aurélio Caixeta, quase todas as casas eram modestas como eu. Perto daqui construíram as Casas Populares que hoje é o Bairro Abner Afonso. Ruas de terra, ora lama, ora poeira. Com o tempo, muitos endinheirados resolveram construir casões, e com isso acabei envolta por eles. Hoje, nada sou, e breve estarei no chão em tristes escombros lembrando das consciências que me habitaram. Mas o destino une e separa, e nenhuma força é grande o suficiente para fazer esquecer pessoas que por algum motivo um dia nos fizeram felizes.

* Texto e foto (02/01/2017): Eitel Teixeira Dannemann.

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