DEIXAREI SAUDADE − 116

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Ô disgrama de silêncio, uma sensação medonha de isolamento. Trem mais ruim do mundo isso, ainda não me acostumei com essa falta de movimento em minhas entranhas. Desde que fui erguida sempre teve humanos e outros animais zanzando entre minhas paredes. Já lá se vão dois anos que estou aqui abandonada num dos pontos mais nobres da Cidade. Mereço isso? Aqui ao lado, a secular casa do Olegário Dias Maciel, hoje o nosso nobre Museu. No outro lado, a considerada mansão que até já foi citada na revista Veja¹, e pelo que ouvi, está preocupadíssima com essa predaiada tomando os nossos espaços. E pode sim ficar preocupada, madama, pois nem eu e mesmo você com essa banca toda vai conseguir se livrar de ser transformada em entulhos. Agora, a casa do Olegário está garantida para sempre, pois foi tombada e virou patrimônio cultural, enquanto eu e você e todas as outras casas aqui da Avenida Getúlio Vargas vamos também ser tombadas, mas literalmente, vamos ao chão e pronto. Você e as outras, pelo menos, tem uma vantagem sobre mim: vão esperar o fim ocupadas, com movimentação interior, isso alegra a gente. Por isso é horrível para mim, sozinha e há tanto tempo nessa de não saber se vou ser ocupada antes de ser demolida. Ô diacho, não é nada fácil ser um imóvel. Pelo menos tenho o prazer de, tanto quanto a casa do Olegário, e você também madama, e todas as outras que já se foram, fazer parte da História de Patos de Minas. E como todas elas, deixarei saudade!

* 1: Leia “Deixarei Saudade − 115”.

* Texto e foto (29/03/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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