Eu surgi dos escombros. Não é assim com todas. Umas nascem sobre um solo preparado especialmente para o fato. Outras, como eu, nascem sobre os vestígios de outra, e até outras. Não sei e nem quero saber se foi assim ou foi assado. Interessa-me apenasmente que surgi muito mais garbosa do que a que aqui estava¹. E aqui, nessa espaçosa avenida, que deveria ser alameda, pois dizem por aí que alameda é uma via de trânsito larga e arborizada, surgi para alegrar as almas que me construíram, que também não estão nem aí para a outra que existia nesse espaço. E por falar nessa alameda, ando preocupada com o arvoredo dela, muito velho, sem renovação. Daqui a pouco vão ter que derrubar tudo². E falando em derrubação, nossa, quantas casas já se foram. Daqueles que formataram essa Cidade, uma ou outra ainda está de pé. É claro que não vai sobrar umazinha só, a não ser o tombamento, como fizeram com a do Olegário Maciel. No mais, vão todas ceder lugar para edifícios, pouco importando o significado histórico delas. Pois é, é o progresso, que jamais respeito o passado. E quanto a mim? Bem, mais do que óbvio, já pertenço à História de Patos de Minas e com muito maior importância do que aquela que viveu aqui, pelo simples fato da minha pujança. Se vão me derrubar algum dia? Ora, quem é que vai ter coragem de me transformar em entulhos, quem? Só supondo, se um dia acontecer, deixarei saudade, imensa saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Avenida Getúlio Vargas com Rua Farnese Maciel.
* 2: Leia “Arvoredo da Avenida Getúlio Vargas: Senilidade Preocupante”.
* Texto e foto (25/01/2020): Eitel Teixeira Dannemann.