DEIXAREI SAUDADE − 91

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Ei, você aí, não me venha com essa de me dê um dinheiro aí, pois dinheiro eu nunca precisei e nunca precisarei, isso é disgramação dos meus construtores, eles é que se virem com o vil metal. Ei, você aí, por um acaso me conhece, pelo menos já transitou pelo meu passeio? Ora, seja franco, você não sabe nada da minha existência, nunca ouviu falar de mim, não tem a mínima noção de quando e como surgi majestosa nessa Cidade¹. Sim, majestosa, naquele tempo em que por aqui tinha mais árvores que casas, a maioria delas simplórias. Lá pra baixo está o Mocambo, aspergindo seu ar salutar danado de bom por sobre todos nós. E aí, você que ainda está aí, eis que o trem foi mudando, mudando, as casas se mudando para o além e a danada dessa obra aí atrás de mim resume tudo. Você ainda está aí? Insistente você, cara, legal, então repare bem na obra aí atrás de mim e em todo o meu entorno. O que isso significa para você? Vai, não enrola, não tenha piedade de mim, não precisa me poupar, pois sei de tudo, cada tijolo de minhas paredes sabe muito bem que meu futuro se resume a um monte de escombros para ceder lugar a um edifício. Não chores por mim, é a sina dos imóveis de então. Não adianta, o tal progresso não nos perdoa de modo algum. Vai, vai embora, deixe-me no meu canto na ansiedade infernal do fim. Agora, preste atenção, não sei quanto a você, mas sou parte da História de Patos de Minas, e quando o vento espalhar pelo ambiente da Cidade a poeira de minhas estruturas arriadas ao chão, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Rua dos Miozotes entre a Rua das Petúnias e a Rua das Acácias.

* Texto e foto (25/07/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe