Hoje isso aqui está uma beleza, para os humildes, como nós. As primeiras almas que me habitaram diziam que trem feio era no tempo do Joaquim Absalão¹ com nem meia dúzia de casas daqui até lá no campo da URT. Aqui era estrada boiadeira que seguia até a ponte e ligava a Cidade com a estrada de ferro de Catiara². Essa praça aí era chamada de Antena, e o porquê nem precisa dizer, né. No tempo das chuvas nessa via atolava até jumento e no estio, quanta poeira, quando vinha a boiada, credo em cruz Ave Maria. Quando fui construída, que eu me lembre, isso aqui era uma pobreza de dar dó, cada casebre. E com o passar das décadas a coisa não melhorou tanto assim. Essa região se transformou no Bairro Nossa Senhora Aparecida mas, me desculpem os cristãos, a santa não tem ajudado nada, pois, confesso, ô lugarzinho perigoso que tem cada beco de dar medo. Voltando à vaca quente das melhoras, é, hoje é tudo asfaltado, comércio movimentado e eis que, por sermos um perfil bastante humilde na Cidade, os fatídicos edifícios ainda não estão nos incomodando. Mas um pouco mais lá pra frente, depois da rua lateral dos Capuchinhos³, o bicho já começou a pegar legal e a predaiada já está serelepe. É o tal progresso que não respeita nem a mãe de ninguém. Ainda bem que vai demorar um pouquinho para chegar até mim e nós outras, todas nós que fazemos parte da História de Patos de Minas. E quando chegar a minha vez, deixarei saudade!
* 1: Leia “Residência da Família de Joaquim Paulo da Silva”.
* 2: O imóvel localiza-se à Avenida Brasil, à esquerda, logo depois da Praça do Cristavo.
* 3: Rua Espírito Santo.
* Texto e foto (13/06/2019): Eitel Teixeira Dannemann.