DEIXAREI SAUDADE – 49

Postado por e arquivado em 2018, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Olha eu aqui na esquina da Rua Olegário Maciel com Rua Tiradentes. Está vendo bem à minha frente a placa de contramão? Se você considera que a tal placa é indicativa de fluxo proibido para veículos, fique a consideração contigo, pois para mim aquela sinistra seta riscada está querendo dizer que eu já era. Não concorda? Ora, repare este edifício em construção aqui ao meu lado. Olhe à direita e veja edifícios já em atividade. Melhor, deixe de ficar olhando essa foto e venha aqui reparar no que está acontecendo no meu entorno. É isso mesmo, meu chapa, casas como eu estão sumindo do mapa no Centrão de Patos de Minas. Quem, pergunto com ardor, quem é capaz de inibir o inexorável progresso? Não adianta, os imóveis antigos sempre se lascam, por mais históricos que sejam. Ô você aí de frente, que é o INSS, abra o olho, hêim, não fique imaginando-se importante para a nossa História, porque um dia você também se lasca.

Então, cá estou na esquina da Rua Olegário Maciel com Rua Tiradentes. Sozinha, abandonada, com o mato já tomando conta de minha frente, com escoriações nas minhas paredes, sem eu ter a mínima ideia do que estão tramando quanto ao meu destino. Aliás, corrijo, tenho sim noção do que estão tramando quanto ao meu destino: minha derrubada. Só não sei, eis meu imenso dilema, só não sei quando ela virá. Mas virá, não tenho como fugir dessa nefasta realidade. Enquanto isso, como está acontecendo com inúmeras de minhas semelhantes, desde as mais humildes às melhorzinhas como eu, só me resta esperar o dia fatídico para eu me transformar em escombros e no meu espaço surgir mais um edifício. Vil progresso, ingrato progresso. Vou para o além de parede estufada com muito orgulho, pois ninguém, absolutamente ninguém, me solapa o crédito de ser integrante da História de Patos de Minas. E quando, definitivamente, eu me for, deixarei saudade!

* Texto e foto (20/05/2018): Eitel Teixeira Dannemann.

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