DEIXAREI SAUDADE − 155

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Eu era branquinha como a neve. Todas as minhas paredes externas eram brancas como o mais puro dos leites. De repente, sei lá o que aconteceu com essas almas que me habitam, resolveram me pintar de azul. Interessante, só a mim, e não se preocuparam com o meu muro. Enquanto aqui em volta de mim tudo continua como dantes no quartel de Abrantes, isto é, poucos cuidam das minhas semelhantes, é uma simplicidade que faz dó, eis que pintaram minhas paredes de azul. Dizem que devemos amar o chão onde surgimos. Então, ó querido bairro¹, surgi entre as suas benevolências em receber tantos necessitados depois que tudo isso por aqui foi transformando num loteamento pelos irmãos Garcia. É, surgi assim, na base da benevolência e na base da benevolência nem sei como ainda estou de pé. São outras gerações dentro de mim, outros pensamentos e sei lá quanto tempo eles vão resistir ao progresso que sem dó nem piedade vão os empurrando para longe daqui. Ei vocês aqui dentro de mim, essa cor azul significa o que? Não importa. Aliás, importa que a coisa vem subindo e nos consumindo e chegará o dia, anotem aí que não vai demorar muito, nenhuma como eu por estas bandas sobreviverá. É o progresso, e nele, somos empecilhos. Mas empecilhos do passado que fazem parte da História de Patos de Minas. Nessa, quando eu como empecilho for exterminada, deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se no n.º 1002 da Rua Mata dos Fernandes alguns metros antes da Vila Padre Alaor, no Bairro Vila Garcia.

* Texto e foto (16/02/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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