Assim começou meu bate-papo com o amigo Oswaldo. Casado há cinco anos com a Maristela, pais de uma linda garotinha de três, ele estava mais do que injuriado, estava revoltadíssimo:
– Por que ela fez isso comigo?
Entre choramingos, soluços e palavras de descontentamento com a vida, ele me contou que resolveu conhecer o novo endereço do trabalho da esposa, o Tribunal Regional Eleitoral, na Rua José de Santana. Para fazer uma surpresa, ele olhou de soslaio para dentro da loja e… que decepção:
– Quando eu vi, não quis acreditar. Esperei uns dois minutos para acalmar minha vontade de chegar nela aos sopapos e olhei novamente. Lá estava ela, que decepção, que raiva, sô!
O Oswaldo, de cabeça baixa, contou-me que viu claramente sua amada esposa acariciando as mãos de um rapaz. Afirmou que sentiu vontade de correr para casa, pegar suas coisas, pegar a filhinha Jurema e sumir de Patos de Minas para nunca mais olhar a cara da bandida:
– É muito desgosto, amigo, dez anos de namoro e já cinco de casados, com uma filhinha, e agora, essa baita decepção, minha esposa acariciando as mãos de um sujeito.
Foi quando a luz se acendeu sob meus dois neurônios, o Idi e o Ota, e então entendi o que realmente o amigo Oswaldo presenciou. Isso porque na semana passada estive lá e também tive minhas mãos nas mãos, não nas da Maristela, mas de outra funcionária. Expliquei ao amigo:
– Oswaldo, não é nada disso, sua esposa sempre foi fidelíssima a você. O negócio, cara, é que os eleitores estão indo lá para fazer a identificação biométrica, e para isso a funcionária tem que pegar na mão do sujeito para colher a impressão digital de todos os dez dedos. Ela já te pediu várias vezes para ir lá, lembre-se. Eu fiz isso semana passada.
Depois de tudo muito bem explicadinho, o Oswaldo foi se acalmando, acalmando, até que, serenamente, foi embora. Mas, desconfiado que é, fez questão de ir lá e conferir. Dias depois, topei com ele na rua, todo sorridente:
– Fiz também a identificação biométrica, e com a Maristela. Legal!
E nada mais disse sobre o assunto.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.