Eu estava aqui quietinha no meu canto¹, ao dissabor de minhas agruras, agruras essas que, sinceramente, nunca interessaram a ninguém. Quietinha sempre fui, escorada na estrutura singela na qual surgi. Assim surgi, assim o tempo passou e desde o meu surgimento, sempre fui singela. Singeleza essa que o fulano aí que me fotografou não conheceu. Por que, você fulano aí, não me revelou quando a minha singeleza era serena? Passados anos e mais anos de sofridos dias e meses, eis que você aparece para identificar-me nessas condições. Qual a sua intenção? Escancarar as minhas deficiências? Evidenciar que o meu fim está próximo para ceder lugar a um famigerado edifício como vem acontecendo com a gente, como está bem evidenciado aí atrás? O que você lucra com isso? É simples prazer de… ó, sim… estou ouvindo a sua voz… aproxime-se mais… diga-me…: Prezado e querido imóvel, tenho por todos os seus semelhantes, independentemente das condições estruturais de cada um, o maior respeito. Não tenho intenção nenhuma de questionar os seus construtores e muito menos o porquê você se encontra assim tão depauperado. O meu único objetivo é registrar na História de Patos de Minas a sua existência, pois você tem a mesma importância para a História de Patos de Minas tanto quanto o mais suntuoso imóvel do Município. Ei, fulano, obrigado pelas palavras… ei. Foi-se, que pena. Puxa vida, que legal, que alento. Agora tenho a consciência de que no dia em que me transformarem em escombros, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua do Gigante (à frente) com sua colega Santo Antônio (à direita), no Bairro Vila Garcia.
* Texto e foto (18/07/2021): Eitel Teixeira Dannemann.