DEIXAREI SAUDADE − 117

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Eu sempre me pergunto quem foi o responsável, lá nos idos tempos do século 19, pela ideia de formatar esse baita espaço de um lado a outro das casas e que é hoje essa Avenida Getúlio Vargas. Será que era para o de cá não ficar xeretando visualmente a vida do de lá e vice-versa? E também me pergunto o porquê a genial ideia ficou só aqui, pois eis que não teve mais. Falo isso não por testemunha ocular, pois ora, fui erguida em 1968. É que as almas que me ergueram sempre falavam disso e eu gostei das observações. O que importa é que desde quando vim ao mundo as mudanças por aqui foram muito lentas. Não havia edifícios, no máximo prédios de dois a três andares, pois, se não me engano, era o gabarito permitido, de acordo com o engenheiro meu construtor que em 2011 foi para outra dimensão¹. O trem então veio devastador, as minhas semelhantes foram sendo ceifadas sem dó nem piedade em prol dos edifícios. E eu acompanhando tudo, lamentosa, pois sabe-se lá o que se passa pela cabeça da viúva que me ocupa, pois o que não faltam são propostas milionárias pelo terreno, aqui que é a área mais nobre da Cidade. Quanto tempo ela vai resistir não sei, só sei que um dia, não muito longe, deixarei de apreciar a minha vizinha de frente², e vice-versa, mais do que claro. Ela é sortuda, pois está nas graças do patrimônio público. Eu não, sou apenas uma mercadoria no mercado de imóveis em prol do progresso. Deixe estar, sou parte da História de Patos de Minas. Derrubem-me, e eu deixarei saudade!

* 1: Leia “Aldo Lino Silva”.

* 2: Leia “Palacete de Itagyba Augusto da Silva”.

* Texto e foto (29/03/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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