Foi uma arrumada legal nas minhas estruturas, bão demais da conta, sô. Não sei se algum humano se lembra de como eu era simplesinha, como era o geral por aqui¹. Muitas de nós sofreram reformas bacanas concomitantemente com o desenvolvimento dessa região. Óbvio, fui uma das privilegiadas e fiquei por demais chique. É, quem pode, […]
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DEIXAREI SAUDADE − 177
Minhas duas janelas eram meus olhos, duas simples janelas na humildade da minha existência. Através delas eu apreciava o movimento da gente simples como os meus construtores. Mas também muita esquisitice, pois por aqui o bicho pegava num mercado carnal que atraia muita gente¹. Depois de muito tempo aconchegando almas, sem eu me preocupar com […]
DEIXAREI SAUDADE − 178
E aí, seu bitelo, feioso! Não, não estou me referindo a você. Meu papo é com esse troço aqui ao meu lado. Nesse local aí tinha uma quase igual a mim que ficou certo tempo e sei lá quantos dias até que, num estalar de dedos, foi derrubada. Pensando com meus tijolos achei um trem […]
DEIXAREI SAUDADE − 179
Há muito tempo, não me lembro quanto tempo, tinha uma casa aí ao meu lado, simples como eu naquele tempo. Passado um tempo, que eu também não me lembro quanto tempo, meus donos me modernizaram. Fiquei feliz demais da conta, mas ao mesmo tempo triste porque o mesmo não aconteceu com a minha semelhante ao […]
DEIXAREI SAUDADE − 180
Reparou aí no meu quintal um pé de manga? E à direita o bitelo representante do progresso que atrozmente vem ocupando os nossos lugares? Reparou à esquerda a minha vizinha com também árvores no quintal? E lá atrás mais bitelos representantes do progresso que atrozmente vem ocupando os nossos lugares? E não está aparecendo à […]
DEIXAREI SAUDADE − 181
Tinha uma gurizada aqui que vivia cantando: Coelhinho, se eu fosse como tu, tirava a mão do bolso e enfiava a mão no… Coelhinho se eu fosse como tu… E assim ficava nisso, só nisso, um mundaréu de tempo até que um dos adultos mandava eles calarem a boca. Por pouco tempo, pois vinha outra: […]
DEIXAREI SAUDADE − 182
Por que me olha assim com essa cara de espanto? Se você acha que estou sendo engolida pela terra está redondamente enganado. Antes de qualquer comentário a meu respeito trate de saber o motivo dessa minha condição. Tá com preguiça, é? Tá bom, de dó te conto. Aqui à minha frente era um descampado poeirento […]
DEIXAREI SAUDADE − 183
Dizem que as paredes têm ouvidos. Eis uma grandessíssima verdade, porque, realmente, nós imóveis ouvimos e muito bem os lamentos, os louvores, as tristezas, as alegrias e o escambau das almas que nos ocupam. E com uma enormíssima diferença dos humanos: não saímos por aí alardeando o que quer que seja. Isso porque as nossas […]
DEIXAREI SAUDADE − 184
Se tem uma coisa que me intriga é o porquê colocaram o nome nesse cadiquinho de via de Rua Estrela do Sul. E esse beco aqui ao meu lado já teve também o nome de Estrela do Sul e depois veio uma petecaiada danada do poder público¹. Povo esquisito esse! Enquanto isso, eu, como imóvel, […]
DEIXAREI SAUDADE − 185
Certo dia minhas paredes ouviram, não me lembro quando, que essa rua tem o nome de Silva Guerra¹. Mas não era esse nome, só que também não me lembro qual era o nome antigo. Só me lembro do barro e da poeira que era isso por aqui, pois gente, sou antiga demais da conta, antes […]
DEIXAREI SAUDADE − 186
Bão demais da conta era ficar ouvindo as lereias das almas que eu aconchegava. Conversas e mais conversas que me divertiam pra caramba. Minhas janelas queriam até se abrir sozinhas para rirem com determinados mexericos. Assim o tempo passou, o pessoal daqui começou a usar máscaras para sair, falavam num tal de Covid-19 e eu […]
DEIXAREI SAUDADE − 187
Sou uma privilegiada, pois surgi na condição de quem tinha condições de me erguer assim como sou agora. Se fui erguida sobre os escombros de alguma semelhante dos idos tempos, fazer o que, não tenho culpa. Sinto pena, realmente sinto pena de quem cedeu lugar para mim. Minha vida tem sido saudável por demais da […]