Por que me olha assim com essa cara de espanto? Se você acha que estou sendo engolida pela terra está redondamente enganado. Antes de qualquer comentário a meu respeito trate de saber o motivo dessa minha condição. Tá com preguiça, é? Tá bom, de dó te conto. Aqui à minha frente era um descampado poeirento na seca e muita lama na chuva¹. Nesse tempo eu e outras semelhantes fomos construídas. De mim para baixo é uma descida que vai dar na cabeceira do Córrego Água Limpa², que fornece água para a Lagoinha. Meu construtor não quis nivelar adequadamente o terreno e quando urbanizaram o descampado², nivelando adequadamente o terreno, eu acabei ficando assim, afundada. Outras iguais a mim também eram afundadas, mas foram substituídas por outras já no nivelamento adequado. E esse fato de minhas semelhantes terem sido substituídas por outros imóveis é de triste lembrança pra mim, apesar de que na realidade eu deveria estar feliz por ainda estar de pé. Há pouco tempo funcionava dentro de mim uma borracharia. Esta se foi e me arrumaram até que legal. Fiquei feliz e por algum tempo minhas estruturas se exultavam imaginando uma vida longa. Mas eis que está havendo uma grande transformação em meu entorno, com a construção de edifícios nos nossos lugares. E aí, Ibrahim Pereira, esteja onde esteja, dá uma forcinha daí e veja se me mantém em pé ainda muito tempo. Na verdade, se até os nossos construtores se vão, é evidente que um dia eu também partirei daqui, fazendo parte definitivamente da História de Patos de Minas. Mas, com certeza, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se em frente à Praça Ibrahim Pereira.
* 2: Leia “Cabeceira do Córrego Água Limpa”.
* Texto e foto (19/10/2021): Eitel Teixeira Dannemann.