DEIXAREI SAUDADE − 176

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Foi uma arrumada legal nas minhas estruturas, bão demais da conta, sô. Não sei se algum humano se lembra de como eu era simplesinha, como era o geral por aqui¹. Muitas de nós sofreram reformas bacanas concomitantemente com o desenvolvimento dessa região. Óbvio, fui uma das privilegiadas e fiquei por demais chique. É, quem pode, pode, né! Durante muito tempo me senti feliz com a minha aparência. Só que, de uns tempos para cá, coisa que incomoda e muito cada lajota e cada telha da minha formação, além de todas as janelas e portas, é o vertiginoso aparecimento de edifícios nos lugares de minhas semelhantes. Aí à direita o bitelo como exemplo. Estão surgindo como moscas na sopa. O que significa isso? Já ouvi vozes dentro de mim dizerem que isso é um tal de progresso e que a região não tendo mais como crescer para os lados, só pode crescer para cima. Vai daí a nossa inexorável substituição por edifícios. E vai daí que me pergunto: isso vai me atingir? Será que, mesmo depois da dinheirama que meus donos gastaram para me deixar assim garbosa, um dia vão se render ao progresso e condenarem-me a entulhos? É, o trem tá difícil, não consigo estabelecer uma conexão com a realidade dos fatos. Será que essas sombras negras aí são sinais nefastos? Melhor deixar isso pra lá, curtir a minha saudável vida de imóvel enquanto posso. Depois, se um dia eu for demolida, com certeza entrarei para a História de Patos de Minas e mais certeza ainda, deixarei saudade!

NOTA: À esquerda, uma porção de um monstrengo. Leia “Edifício Esqueleto”, “Edifício Esqueleto Volta a Ser Notícia”, “Edifício Esqueleto: 28 Anos Maculando a Cidade”.

* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Rui Barbosa com sua colega Padre Alaor, no Bairro Lagoa Grande.

* Texto e foto (23/08/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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