Foi uma arrumada legal nas minhas estruturas, bão demais da conta, sô. Não sei se algum humano se lembra de como eu era simplesinha, como era o geral por aqui¹. Muitas de nós sofreram reformas bacanas concomitantemente com o desenvolvimento dessa região. Óbvio, fui uma das privilegiadas e fiquei por demais chique. É, quem pode, pode, né! Durante muito tempo me senti feliz com a minha aparência. Só que, de uns tempos para cá, coisa que incomoda e muito cada lajota e cada telha da minha formação, além de todas as janelas e portas, é o vertiginoso aparecimento de edifícios nos lugares de minhas semelhantes. Aí à direita o bitelo como exemplo. Estão surgindo como moscas na sopa. O que significa isso? Já ouvi vozes dentro de mim dizerem que isso é um tal de progresso e que a região não tendo mais como crescer para os lados, só pode crescer para cima. Vai daí a nossa inexorável substituição por edifícios. E vai daí que me pergunto: isso vai me atingir? Será que, mesmo depois da dinheirama que meus donos gastaram para me deixar assim garbosa, um dia vão se render ao progresso e condenarem-me a entulhos? É, o trem tá difícil, não consigo estabelecer uma conexão com a realidade dos fatos. Será que essas sombras negras aí são sinais nefastos? Melhor deixar isso pra lá, curtir a minha saudável vida de imóvel enquanto posso. Depois, se um dia eu for demolida, com certeza entrarei para a História de Patos de Minas e mais certeza ainda, deixarei saudade!
NOTA: À esquerda, uma porção de um monstrengo. Leia “Edifício Esqueleto”, “Edifício Esqueleto Volta a Ser Notícia”, “Edifício Esqueleto: 28 Anos Maculando a Cidade”.
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua Rui Barbosa com sua colega Padre Alaor, no Bairro Lagoa Grande.
* Texto e foto (23/08/2021): Eitel Teixeira Dannemann.