Bão demais da conta era ficar ouvindo as lereias das almas que eu aconchegava. Conversas e mais conversas que me divertiam pra caramba. Minhas janelas queriam até se abrir sozinhas para rirem com determinados mexericos. Assim o tempo passou, o pessoal daqui começou a usar máscaras para sair, falavam num tal de Covid-19 e eu não entendendo bulhufas. De repente, me vi abandonada. Sim, sumiram todos, não ouço mais vozes e esse silêncio é terrível. O que fazer? Passei então a ouvir os transeuntes. E nessa de ouvir os transeuntes, dois deles com máscaras passaram por mim e um falou que o tal do Covid-19 ainda não está totalmente controlado e que era preciso, acima de tudo, ser vacinado, e continuar com as proteções recomendadas. Como sei lá o que é esse tal de Covid-19, continuei na minha solidão. E nessa minha solidão, ligadíssima nos transeuntes, um comentou: “Mais uma placa de vende-se, mais um edifício”. Pronto, pirei, e só foi assim que reparei no tal edifício aí. E só foi assim que percebi que minhas semelhantes estão sendo devoradas pelo progresso. Então, a ficha caiu, ligando-me à realidade, a cruel realidade de que todo imóvel do passado será substituído por um edifício. E quando ouvi outro transeunte dizer que a próxima será uma aqui pertinho de mim¹, senti meus rebocos, minhas paredes e até a minha caixa-d’água clamando: é a sina! Confortei-me, enfim, aceitando o atroz futuro. Sei lá quando virá, mas quando chegar estarei dignificada na História de Patos de Minas. E deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Teófilo Otoni entre as Praças Antônio Dias e Dona Genoveva.
* Texto e foto (14/12/2021): Eitel Teixeira Dannemann.