E aí, seu bitelo, feioso! Não, não estou me referindo a você. Meu papo é com esse troço aqui ao meu lado. Nesse local aí tinha uma quase igual a mim que ficou certo tempo e sei lá quantos dias até que, num estalar de dedos, foi derrubada. Pensando com meus tijolos achei um trem muito do esquisito. Mesmo assim dei muita importância não, sabe. Ei, agora estou falando é com você, presta atenção. Então, deixei pra lá. Nisso, certo dia ouvi de um dos meus moradores que um amigo deles havia negociado sua casa para a construção de um troço igual a esse aí e que receberia dois apartamentos no negócio. Então comecei a perceber que muitos edifícios estavam sendo construídos no meu entorno¹ no lugar das casas, tão ou mais simples que eu. Reparou que sou daquele tempo das fachadas das casas no passeio? Ei, repara no que estou te contando, sô, fica aí nesse celular conferindo o tal do zap, larga disso, tá igualzinho o povo que me habita. Pois então, sou daquele tempo em que o sujeito passava na minha frente e olhava pela janela. Bando de curiosos. Mas pelo menos não tinha essa bandidagem de hoje, por isso tem grade e está sempre fechada. E sem falar nesse tal de Covid-19 que eu já entendi um pouquinho do que se trata. O trem é bravo, né. Anteontem chegou um aqui esfuziante porque tinha recebido a segunda dose da vacina. Será que eu também vou ser vacinada? Tá rindo de que? Para com isso e eu vou logo terminando porque já percebi que seu negócio é esse tal de zap. O negócio é o seguinte, cara, estou numa deprê danada só pensando nas minhas semelhantes que cederam lugar a edifícios. Eu sei que elas entraram para a História de Patos de Minas, e as minhas entranhas paredais sabem muito bem que isso, mais dia ou menos dia, vai acontecer comigo. E aí, como elas, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Avenida Tomaz de Aquino entre as Ruas Ibrahim Pereira e João Maria de Souza, no Bairro Rosário.
* Texto e foto (16/09/2021): Eitel Teixeira Dannemann.