DEIXAREI SAUDADE − 183

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Dizem que as paredes têm ouvidos. Eis uma grandessíssima verdade, porque, realmente, nós imóveis ouvimos e muito bem os lamentos, os louvores, as tristezas, as alegrias e o escambau das almas que nos ocupam. E com uma enormíssima diferença dos humanos: não saímos por aí alardeando o que quer que seja. Isso porque as nossas paredes são como confessionário: aqui se ouve, aqui o que foi ouvido se esvanece entre os nossos rebocos. Recentemente ouvi que “quando não houver mais lugar no inferno, os mortos vagarão pela terra”. Que troço é esse? Será que tem a ver com essas motos barulhentas que nos infernizam 24 horas por dia? Sim, aqui pela minha região¹ é uma zorra. Gente do céu, não tem autoridade alguma aqui em Patos de Minas que consiga por um fim a esse inferno? Já não basta essa transformação estrutural na Cidade que tanto me atormenta? Que transformação estrutural? Ora, presta atenção aqui ao lado e atrás. Deu para perceber? É, as paredes têm ouvidos, e o que costumo ouvir aqui dentro de mim é um papo muito estranho. Uns dizem que os tempos estão mudando, que a violência está enorme por falta de impunidade, que tem ladrão saindo pelo ladrão e que por causa disso o tal do edifício é mais seguro que casa. E nessa, inúmeras semelhantes já se foram. E nessa, quando chegará a minha vez? Sim, eu não tenho a pretensão da eternidade, tenho plena consciência que chegará a minha vez e, como todas as minhas semelhantes, retratadas ou não retratadas, entrarei para a História de Patos de Minas. E deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se na Rua Maria Borges da Silva, entre suas colegas José Augusto de Queiroz e Francisco José de Queiroz, e que limita os Bairros Abner Afonso e Alto dos Caiçaras.

* Texto e foto (26/10/2021): Eitel Teixeira Dannemann.

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