A doença renal policística – DRP (doença renal crônica – DRC) também conhecida como PKD (Polycystic Kidney Disease), é uma enfermidade congênita caracterizada pelo desenvolvimento de cistos renais que culminam com insuficiência renal crônica. É mais comumente diagnosticada em felinos, sem distinção por sexo nem cor da pelagem. A doença é mais relatada na raça Persa e mestiços, entretanto há relatos em raças como Himalaio, Birmanês e Exóticos. Está relacionada a uma mutação no gene PKD1. O portador pode ser assintomático por toda a vida ou manifestar sinais clínicos após alguns anos, entre 3 a 10 anos de idade, quando a doença progride para um quadro de doença renal crônica.
A doença se caracteriza pela presença de estruturas císticas redondas ou ovaladas, com variações de tamanho, bem delimitados e repletos de fluido claro e seroso, e que podem atingir tanto a região cortical quanto a medular de forma uni ou bilateral e, menos comum, no fígado, baço e pâncreas, frequentemente aumentando de tamanho e número de acordo com a evolução e o avançar da idade do animal. Apesar de pouco esclarecida, acredita-se que a formação dos cistos parece ocorrer pela combinação de aumento da proliferação celular, secreção de fluido e alterações da matriz extracelular, de forma que a perda da polarização dos cílios alteraria a função de reabsorção de água, desenvolvendo cistos no parênquima. É uma doença renal de curso longo e progressivo que causa inflamação, fibrose e, consequentemente, em doença renal crônica. É considerada a doença hereditária de maior prevalência em gatos domésticos.
Os sinais clínicos são inespecíficos e vão variar de acordo com o desenvolvimento dos cistos, devido a inflamação e fibrose que acarretam em compressão do parênquima e podem aparecer entre três e dez anos de idade. Em geral, observa-se apatia, letargia, anorexia, desidratação, poliúria, polidipsia, perda de peso. Outros sinais clínicos observados são hipertensão sistêmica, hemorragia, pielonefrite, distensão abdominal, renomegalia, êmese e distúrbios gastrointestinais. Os achados laboratoriais também são inespecíficos, dependendo do estadiamento da DRC que o paciente se encontra, sendo os mais comuns a azotemia, hiperfosfatemia, hiper ou hipocalcemia, anemia não regenerativa e proteinúria. O diagnóstico deve ser baseado na anamnese, histórico familiar do paciente, achados laboratoriais, resultados de exames de imagem e de teste molecular. O prognóstico é reservado, e depende do estágio e evolução do quadro clínico, resposta à terapia e colaboração do proprietário.
Não existe terapia específica para doença renal policística, os animais portadores devem ser tratados como doentes renais crônicos e o tratamento realizado de acordo com o estadiamento da doença de acordo com a IRIS (International Renal Interest Society), sendo importante o diagnóstico precoce para tentar retardar a progressão da doença. O tratamento consiste em renoproteção, manutenção e tratamento sintomático de suporte. É necessário melhorar sinais clínicos da uremia quando existir, fornecer dieta adequada e tentar minimizar distúrbios associados aos excessos ou às perdas de eletrólitos, vitaminas e minerais. Por mais que gatos com DRC sejam normotensos, alguns podem desenvolver hipertensão sistêmica, e seu tratamento visa diminuir danos em órgãos-alvo, sendo a terapia medicamentosa anti-hipertensiva é indicada para pacientes com pressão arterial sistêmica persistente e/ou com risco de lesões em órgãos-alvo.
O controle da doença deve ser realizado baseado em um diagnóstico precoce por meio da realização de exames ultrassonográficos, em conjunto com testes moleculares e genéticos, antes que os gatos passíveis de terem DRP iniciem suas vidas reprodutivas, sendo importante a retirada dos animais positivos da reprodução, visto que poderá transmitir a doença a pelo menos 50% de seus descendentes;
A DRP ainda tem muita coisa a ser desvendada e as pesquisas de biologia molecular estão cada vez mais desenvolvidas, o que nos dá uma perspectiva de métodos diagnósticos mais precisos e precoce. O diagnóstico precoce da doença é o que diferencia o prognóstico e a qualidade de vida dos portadores e influencia diretamente na adoção de medidas terapêuticas sintomáticas e renoprotetoras adequadas, impedindo a progressão dos sinais clínicos e possibilitando uma melhora na qualidade de vida dos pacientes. A não reprodução de animais portadores do PKD1 ainda é a maneira mais eficaz de prevenção da doença, impedindo a propagação dos fatores genéticos responsáveis pela enfermidade.
* Fonte: Doença Renal Policística em Felinos Domésticos – Revisão de Literatura (2012), de Jhennifer Lee Cham.
* Foto: drgerardfajula.com.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann